quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

POR DENTRO DAS GANGUES - PARTE 1

Década de 90.

Olympia Disco Show, uma das melhores boates da Capital mineira.

Situada na "base" do Edifício JK, bem ali onde hoje funciona a Igreja Universal, abrigava os mais variados públicos.

Mas, o que nos interessa, são as matinês, que ocorriam aos domingos, a partir das 17 h.

Nesse período, a cidade era dividida em 2 grandes grupos:

GDC – Galera do Central Shopping, formada pelos playboys, que freqüentavam a Space (boate localizada na Savassi) e o Central Shopping

DSA – Demônios do Santo André, formada pelos ‘favelados’, que freqüentavam o Olympia e o Shopping Del Rey.

Basicamente, assim funcionava a divisão dos territórios.

Cada grupo respeitava o território alheio.

O Olympia era nossa casa.

Na parte dos fundos, próximo ao palco, reinavam os DSA.

Ninguém se atrevia a penetrar naquele recanto. Caso contrário, a confusão já estava armada.

A turma variava muito.

Às vezes, entre 30 e 40 integrantes.

Quando preciso, entre 100 e 250.

Impunham respeito e os "intrusos" eram convidados sair.

Primeiro, num papo amigável.

Depois...escoltado a murros e pontapés.

Invariavelmente, um aventureiro, ou mexia com uma das meninas, ou folgava com um dos meninos.

Aí, minha gente, o pau cantava.

Estrategicamente posicionado na beira do palco, num local onde era possível ter uma visão global da boate, um dos líderes dos DSA observava todo o movimento.

Qualquer sinal de confusão, espalhava estrategicamente os integrantes.

A tropa era formada pela infantaria, um pelotão de 6 ou 7 gigantes, cada qual com os seus 1.80 m, ágeis e fortes.

Havia a "isca", que podia ser homem ou mulher.

Geralmente, era um fracote, songamonga.

E havia os pitbulls!

Embora todos fossem lá para a diversão, brigar era inevitável.

Os Demônios do Santo André eram uma lenda viva.

Os que se atreviam a desafiar a lenda, ganhavam hematomas, quando não muito, eram hospitalizados.

Marcaram território.

Nem os seguranças do Olympia se atreviam a encarar os DSA!

Inúmeras vezes os DSA foram aplaudidos, ovacionados, por expulsarem da boate os engraçadinhos.

A fama e o respeito conquistados pelos DSA, espalhou-se rapidamente.

Para "ganhar" uma menina, bastava dizer que era um DSA.

Aliás, nem era preciso correr atrás de mulher. Todas queriam um Demônio.

Status. Glamour. Sinônimo de proteção.

Orgulho.

Ocorre que, num determinado dia, época de carnaval, os DSA foram para o Olympia em menor número.

Os playboys da GDC aproveitaram para fazer a festa e bancarem os covardes.

Resultado: cercaram alguns DSA e baixaram o cacete.

Em desvantagem, os DSA recuaram.

Exultantes pela vitória sobre os temidos Demônios, os playboys comemoraram.

Mas, cometeram um erro fatal: engraçaram-se com as meninas dos DSA.

Embevecidos, caíram na armadilha e foram para o apê da tia de uma das meninas.

Detalhe: DENTRO DO TERRITÓRIO INIMIGO!

O máximo da ousadia!

Pro azar dos playboys, um dos DSA estava no mesmo ônibus que eles.

Espremido num canto, machucado, passou despercebido.

Desceu na praça, QG dos DSA.

Passou a informação de que o inimigo, além de humilhar parte da tropa, estava invadindo os seus domínios, bem ali na fuça deles.

Rapidamente, o cerco foi armado.

Um pelotão deslocou-se rapidamente pelos becos e vielas, cortando caminho, tentando surpreender o inimigo.

Profundos conhecedores dos seus territórios, os DSA cercaram os playboys.

O pau cantou. O sangue desceu.

Um dos Demônios, socava o playboy e dizia: "- Não quero bater em você."


Os playboys ficaram desesperados.

Clamavam pela polícia.

Um dos Demônios tirou o brasão do bolso e bateu inúmeras vezes na cara do playboy. "Polícia? Tá aqui, ó!"

Mas, os DSA não eram tão Demônios assim.

Vendo o estado deplorável dos surrados, ofereceram para levá-los a um hospital.

Obviamente, temendo a morte, os playboys recusaram.

Passada a surra inicial, o pelotão dispersou.

No retorno pro QG, encontraram parte da tropa que havia sido surrada no Olympia.

Convencionou-se que as contas ainda não haviam sido acertadas.

O pelotão, agora aumentado, rumou até o apartamento da tia de uma das meninas.

O porteiro bem que tentou conter a tropa.

Mas como segurar 20 homens enfurecidos, com sangue nos olhos?

Fingiu de bobo, fez seu papel.

O apartamento foi invadido.

Junto com os playboys surrados, havia um pequeno grupo GDC comemorando.

Pior prá eles.

Sessão de tapas na cara, socos no estômago, pontapés, humilhações, etc.

O porteiro bateu na porta, pedindo tranqüilidade. Ameaçou chamar a polícia.

Num recuo estratégico, os DSA retiraram os playboys do apartamento, não sem antes recolher os comes e bebes que os membros da GDC haviam comprado para comemorar a surra.

Já na rua, presos pelo gogó, mais tapas na cara e avisos de que não deveriam, em tempo algum, mexer com um DSA.

A vingança seria maligna.

Despachados os playboys, os Demônios retornaram ao QG para comemorarem a vitória sobre o inimigo.

Assim, a lenda dos Demônios do Santos André espalhou-se rapidamente pelos quatro cantos da cidade.

2 comentários:

  1. Isso é coisa pra ser esquecida, não propagado para esta geração que hoje já sofre desse mal, como vimos na porta do Chevrolet Hall...

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  2. O objetivo de "Por Dentro das Gangues" não é incitar a violência, mas auxiliar as Autoridades no tocante à formação e ao 'modus operandi', de forma a facilitar a prevenção e, ao mesmo tempo, conscientizar a Sociedade para este mal que nasceu há anos, mas que vem tomando uma dimensão assustadora pela violência empregada.

    Grato pela colaboração.

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