CURRICULUM VITAE
(by Luiz Henrique Prieto)
Ontem era amado.
Hoje, odiado.
Já fui bem vindo.
Hoje, mal quisto.
Fui amigo.
Hoje, inimigo.
Já fui querido.
Hoje, banido.
Hoje, inimigo.
Já fui querido.
Hoje, banido.
Flanelinha
Vendi pipoca
Engraxei sapatos
Catei lixo
Lavei carros
Vendi pipoca
Engraxei sapatos
Catei lixo
Lavei carros
Despejado
Esfomeado
Molestado
Humilhado
Esfomeado
Molestado
Humilhado
Mendiguei
Comia em supermercados
Vendi frutas
Desmaiei de fome
Comia em supermercados
Vendi frutas
Desmaiei de fome
Vendi chup-chup
Vendi picolé
Gritei "Aê o Estado"!
Vendi picolé
Gritei "Aê o Estado"!
Roadie
Porteiro
Segurança
Servente
Pintor
Porteiro
Segurança
Servente
Pintor
Carreguei compras de madames
Aos cinco, vendia biscoito frito,
Café e Toddy, em obras
Fazia cobranças
Feito cão de guarda
Grudava no calcanhar dos caloteiros
Duas, quatro, seis horas de espera
Aos nove,
Nove quilômetros à pé
(às vezes, dezoito, ida e volta)
De casa à escola
(tinha vergonha de pular
a roleta do ônibus)
Matei aula no pé de manga
Perdi vaga na escola
Aos doze, dona de casa
Lavava
Passava
Cozinhava
Levava os menores na escola
Seviciado na adolescência
Fui o pior e o melhor da escola
Li Sabrina, Júlia, Bianca
Mas também Hitchcock
No teatro fui ator,
Redator, diretor
Fiz cinema
Cinco dias de gravações
Cinco minutos de exibição
Nenhum glamour
Nenhum autógrafo
Apenas recordações
Aos dezessete,
Brincava de "Comandos Em Ação"
Com os meus bonequinhos articulados
Tive meus quinze minutos de fama
Diante de vinte mil pessoas
Não tive carro
Mas tive grana
E um monte de convite
Prá qualquer lugar
Já fui líder
Nunca chefe
(Não aprendi a bajular
Tampouco a engolir sapos
Ou puxar tapetes)
Já fui respeito
Hoje?
Chacota
Uma doença contagiosa
Que a todos afastou
Feito bagaço de laranja
Cujo o sumo foi extraído
Tentou a foice
Ceifar-me, inúmeras vezes
Nem prá isso eu servi
"Mas se você achar que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados..."
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