terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A SUA CAUSA É A MINHA! (DESDE QUE VOCÊ SEJA FAMOSO!)


(Luiz Henrique Prieto)


Curioso como as pessoas são engajadas, né?

Ah, mas só vale se a "causa" for iniciada pela indignação de alguém muito famoso!

Um exemplo recente: a filha de um casal famoso sofreu ofensas nas Redes Sociais.

Mais do que depressa, dezenas de centenas de milhares de pessoas comuns apiedaram-se, condoeram-se, tomaram para si todas as dores!

Concordo.

Crime horroroso, cruel!

Tenho amigos e amigas, conhecidos e conhecidas, que são negros.

Obviamente, os seus filhos também são negros!

No entanto, nunca vi nenhum deles reclamar de racismo, preconceito ou seja lá o que for!

Talvez, porque nunca tenha acontecido.

Ou talvez, porque não dê tanta repercussão, devido à "ausência de fama".

Duvido que uma meia-dúzia de amigos e outro tanto de conhecidos, irá se engajar, trocar as fotos dos perfis nas Redes Sociais, criar hashtags, etc.

Vou mais além: diariamente, os pretos favelados são esculachados!

Seja nas ditas "comunidades", seja na portaria de um prédio de luxo, seja andando à toa, olhando vitrines, num shopping de bacanas!

Aliás, qual é a diferença entre o olhar de um preto favelado e o olhar de um branco bem nascido, para a mesma vitrine?

Será que o olhar do primeiro é o de "desejo de roubar" e o do segundo é do de "desejo de consumir"?

Querem outro exemplo?

"Mulher Salada-de-Frutas é agredida pelo marido"

"Nossa, que absurdo! Vamos denunciar esse monstro, protestar, botar a boca no trombone!"

E tome compartilhamentos de indignação nas Redes Sociais!

Aí, você fica sabendo que a sua vizinha levou uns tapas do marido.

Aliás, uns tapas, não!

Foi parar no hospital, graças às agressões!

"Ah, isso é uma briga boba de casal! Logo, logo, reatam!"

E nada de indignação, compartilhamento, protestos...

Então, ô cambada de "engajados" em "causas de famosos", prestem muita atenção: esses aí, não precisam da sua voz, dos seus compartilhamentos ou dos seus likes!

Essa turma, tem mídia gratuita e holofotes à vontade!

Já aquela turminha que citei ali em cima, esses sim, são pessoas invisíveis!

Precisam, e muito, dos seus likes, dos seus compartilhamentos, da sua voz...

PS.: O texto se aplica não somente ao preconceito e à violência doméstica, mas também a qualquer tipo de violação dos Nossos Direitos!

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

PESCARIA



  
PESCARIA

(Luiz Henrique Prieto)



Todas as manhãs, bem cedinho, o pescador pega o seu barco e ruma para alto-mar.
Dentro do barco, além da rede de pesca, há um grande estoque de FÉ e ESPERANÇA.
Ao chegar a determinado local, o pescador lança sua rede ao mar, sem saber ao certo, o que vai pescar.
Tem dia que a pesca é boa.
Tem dia que nem tanto.
Porém, diariamente, o pescador confere a sua rede, efetuando alguns ajustes e reparos.
Ele sabe que, caso a rede não esteja em boas condições, de nada vai adiantar lançá-la, ainda que seja sobre um enorme cardume.
Outro fato importante: ele sabe que, se lançar a rede, repetidas vezes, sobre o mesmo local, mais cedo ou mais tarde, não pescará nada, dada a escassez de recursos.
De pé, em seu barco, equilibrando o corpo frágil, fustigado pelo sol, sabiamente lança a rede bem cuidada a esmo, alcançando a maior distância possível, pois sabe que assim aumentará as suas possibilidades.
Pacientemente aguarda, até que os peixes mordam a isca.
O resultado da pesca vai depender da sabedoria, da habilidade, da paciência e da perseverança.
Claro que vão surgir contratempos!
Mas, se diante das intempéries, o pescador decidir não lançar a sua rede, não haverá pescaria.

quarta-feira, 29 de março de 2017

MENDIGO AFETIVO



(Luiz Henrique Prieto)


Vivo de restos,
Miserável que sou.

Daquilo que os outros descartam.

Ou porque já estão satisfeitos.
Ou porque se cansaram de usar.

Restos de afetos.
Sobras de carinhos.
Farelos de ternura.
Migalhas de amor.

Me sinto usado.
Sujo.
Fedido.
E fodido.

Interesses?
Somente os alheios!

Não se importam em machucar o meu puro e inocente coração!

Pisoteiam.
Estraçalham.

Sapateiam um samba-enredo,
De salto agulha,
Sobre o meu esfarrapado coração

Escarnecem.
Cospem.
Fazem troça do mendigo afetivo.

Que lhes estende os braços,
Na doce ilusão de ser acolhido...

Eu, pobre maltrapilho.
Pedinte de afeto.
Restos e raspas, me interessam.