terça-feira, 22 de novembro de 2011

O CU DE BELO HORIZONTE - TRANSPORTE COLETIVO




Há tempos venho querendo escrever sobre o CU de Belo Horizonte, mas é tanta cagada, que até desanimo.

Não, não estou me referindo ao orifício circular corrugado, localizado na região ínfero-lombar, o popular CU, mas sim ao Caos Urbano instalado nesta Capital.

Começarei falando sobre o Transporte Público.

A cidade está em festa!

Afinal, o sonho de consumo do belorizontino, em termos de transporte, finalmente vai sair do papel (será?).

Sim, sim, SIM!

Estou falando do METRÔ!!!

Hoje, a possível solução para o transporte da massa trabalhadora está restrita a dois ramais: Eldorado-Lagoinha, Lagoinha-Vilarinho, com 28,2 km de extensão.
Com a proximidade da Copa de 2014, o Governo Federal anunciou a liberação de verbas sei lá de quantos milhões para a implantação das linhas 2 (Barreiro-Santa Tereza) e 3 (Pampulha-Savassi).
Já tem gente chiando, dizendo ser desnecessária a implantação da linha 3, pois beneficiaria somente os ricos.
Bom, a expansão do metrô vem se arrastando ao longo de, no mínimo, duas décadas.
Na minha opinião, o investimento não ocorreu antes por absoluta falta de interesse!
Afinal, boa parte dos 28,2 km de trilhos está na periferia, ou escondida, o que dificultaria uma belíssima propaganda político-partidária.
Ninguém faz uma obra de grande porte, sem querer aparecer!
Se assim fosse, a revitalização da Savassi ocorreria aos poucos, sem prejudicar a população e os comerciantes.
Se não der prá aparecer, não tem obra!
Com a notícia da expansão, a população sorri, aliviada!

Prá completar o “embromation”, a mídia vem sendo bombardeada com o tal BRT, a solução definitiva (?) para o problema do trânsito caótico!

Não contentes, nossos governantes anunciam a implementação de ônibus especiais, que circularão no trajeto Buritis – Savassi, Praça da Liberdade – Cidade Administrativa.
São ônibus de luxo, com ar condicionado, lotação limitada ao número de bancos e, é claro, tarifas mais elevadas!

Mas, porque tantos presentes para o cidadão belorizontino, cujo o sofrimento aumenta a cada nova leva de veículos emplacados?

Simples: desviar a atenção da incompetência do Órgão Gestor, no que diz respeito à fiscalização e exigência do cumprimento das normas estabelecidas!
Reza o REGULAMENTO OPERACIONAL DO SERVIÇO PÚBLICO DE TRANSPORTE COLETIVO DE PASSAGEIROS POR ÔNIBUS DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, que “(...) O Serviço Público de Transporte Coletivo de Passageiros por Ônibus é serviço essencial, devendo ser prestado de forma adequada ao pleno atendimento do usuário e de acordo com a legislação vigente e as condições do contrato de subconcessão, deste Regulamento e demais ordens de serviço, portarias, determinações, normas e instruções complementares. (...) A prestação adequada do serviço é a que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, pontualidade, conforto, eficiência, segurança, atualidade das técnicas, da tecnologia, do atendimento, generalidade, cortesia e modicidade das tarifas. (...)"
Ou seja: o básico do básico, que deveria ser observado pelas Concessionárias de Transporte Coletivo, não é cumprido!
Pelo contrário. O que temos visto por aí, são ônibus superlotados, quadros de horários não cumpridos, motoristas e cobradores mal preparados e LUGAR NENHUM PARA RECLAMAR!
Os bancos dos ônibus estão cada vez menores, cada vez mais apertados, vez que, parece interessar às Empresas, transportar um número cada vez maior de passageiros, seja da maneira que for.

Para efeito de comparação, uso o meu biotipo.
Tenho 1.76 m, ombros normais (tem gente que tem ombros largos).
Nos bancos destinados às pessoas obesas, mal cabem dois de mim!
Esticar as pernas? Nem pensar!
Invariavelmente, meus joelhos batem no assento do banco à frente, incomodando o passageiro.
Tenho que me sentar e ficar encolhido, abraçando minha mochila.
Se cruzar os braços, acerto o baço da pessoa que vai ao meu lado!
Obviamente, existem Normas Técnicas estabelecendo as dimensões dos veículos de Transporte Coletivo.
Nada tira da minha cabeça que as dimensões aplicadas devem ser as mínimas possíveis!
Qualquer hora dessas, vou medir a largura dos bancos e a distância entre os assentos, só prá confrontar com a tal norma técnica!
O fato é que o desconforto é imenso!
Tanto prá quem viaja sentado, como para quem viaja em pé.
Ônibus que deveriam transportar, no máximo, 50 (cinqüenta) passageiros, levam mais de 70 (setenta)!
Pobres sardinhas enlatadas, que pagam uma das passagens mais caras desse Brasil Varonil!
Salvo engano, temos a quarta passagem mais cara :O

Então...
É justo que o cidadão, que viaja mais de UMA HORA EM PÉ, pague o mesmo preço que um cidadão que viaja sentado?
E o que viaja sentado, obrigatoriamente espremido?
Onde está o conforto?
E o que dizer das linhas de ônibus que, nos finais de semana, circulam de 40/40 minutos, ou até mesmo, de hora em hora?
Pior: durante a semana, descumprem, sem qualquer punição, os quadros de horários estabelecidos.

Duvida?
Pois tente utilizar a linha 4032 (Caiçara – Savassi)!
Se os ônibus não atrasarem durante o dia, viro mico de circo!
Aí um infeliz vai me dizer prá reclamar com o Órgão Gerenciador.

Vejamos se funciona...

Dias atrás, embarquei em um ônibus da linha 4113 (Bom Jesus – Belvedere) na área central. Ao tentar passar pela roleta, fui surpreendido com a atitude do agente de bordo, que num tom grosseiro disse: “A maquininha do cartão está com defeito. Ou você paga em dinheiro, ou desce e pega outro carro”. Fiquei abismado com a postura do cidadão! Tentei argumentar, dizendo que, em caso de defeito no equipamento, o agente de bordo deveria registrar em formulário próprio o número do cartão e liberar a roleta. Com muita má vontade, o agente pegou o meu cartão e começou a anotar os números, mas parou no meio do caminho, dizendo que os números estavam ilegíveis. Peguei o cartão e ditei os tais números para o infeliz. À medida que ia anotando, o mal educado falava poucas e boas, utilizando gírias e palavrões, amaldiçoando os passageiros. Após passar pela roleta, imediatamente tratei de anotar o número do veículo, para posterior reclamação. Repetindo a mesma fala para os demais passageiros (ou paga em dinheiro ou desce!), o agente de bordo percebeu o que eu fazia e, em tom de escárnio, falou o número do veículo e o seu nome, para que eu anotasse, completando que eu poderia reclamar o tanto que quisesse, que de nada adiantaria.
Terminei a anotação e mantive a tranqüilidade.
Contudo, o agente ficou me encarando durante todo o trajeto, soltando um ou outro gracejo, às vezes em tom ameaçador.

No dia seguinte, fiz o que era o certo: registrei uma reclamação junto ao Órgão Gestor, crente de que o problema seria solucionado.

Qual o quê !!!!

Dias depois, recebi uma famigerada cartinha, informando que a reclamação deveria ser dirigida (PASMEM) à Empresa de Transporte Coletivo!
Pior ainda: “Estamos trabalhando para melhorar o Transporte Público em Belo Horizonte” (ou algo do tipo).

Quer dizer....
Deixaram as galinhas ao cuidado dos lobos!

Resultado: ao que tudo indica, nenhuma punição foi aplicada ao agente de bordo, pois sempre tenho o desprazer de encontrá-lo, quando retorno prá casa.
Em alguns casos, prefiro nem embarcar no ônibus no qual o indivíduo esteja trabalhando.
Virei refém de um Sistema falido (pelo menos para os passageiros, pois os empresários ganham rios de dinheiro), cujo o controle está nas mãos das Concessionárias!

E, como toda campanha eleitoral é bancada por grandes empresários, duvido muito que alguma coisa vá mudar!

O negócio é esperar a expansão do metrô sair do papel e o tal BRT ficar pronto.

Ou então, trabalhar em casa mesmo!

Ah, só para ilustrar, uma breve historinha: desde a sua inauguração, em 1897, o transporte público de BH está nas mãos da iniciativa privada. Houve um tempo somente, na época dos bondes, em que a Prefeitura assumiu o gerenciamento. O sistema de bondes funcionava perfeitamente, agradando a todos. Contudo, depois de DEZ ANOS sem aumento na tarifa, os empresários pressionaram a Prefeitura, que não abriu mão do aumento. Resultado: os empresários deixaram o sistema sucatear, surgindo, a partir daí, os primeiros ônibus coletivos.



Táxi


(by Luiz Henrique Prieto)


Meu táxi transporta alegria
Retratada na algazarra infantil
Que permeia o banco traseiro
Tal qual passarinhos
Chilreando, festivos
Numa laranjeira ao cair do dia...

Meu táxi transporta tristeza
Retratada na maquiagem
Que se desfaz
Ante a enxurrada de lágrimas
Que brota dos lindos olhos
Da pobre moça...

Meu táxi transporta monotonia
Ante o sujeito sisudo
Cenho franzido
Imerso em seu próprio silêncio...

Meu táxi transporta esperança
Retratada no buquê de flores do campo
Colhidas há pouco
Repousando, inquieto
No colo do jovem mancebo
Sorriso estampado na face
Rumo ao reencontro com a amada...

Meu táxi transborda de amor
Retratado nos beijos apaixonados
Suspiros profundos
Risinhos nervosos
Advindos do jovem casal
No banco traseiro
Rumo ao templo do pecado...

E assim
Num entra e sai
Sobe e desce
Vai e vem
Me transporto do táxi
Para retratar esses pequeninos versos...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

DONA JUSTA - AS MAZELAS DO JUDICIÁRIO

(by Luiz Henrique Prieto)


A emboscada sofrida pela Juíza Patrícia Acioli, covardemente assassinada, reacende uma discussão antiga, que vira e mexe, vem à tona, graças ao sensacionalismo, mas que, logo, logo, vai caindo no esquecimento, na mesma medida em que o corpo vai se decompondo.

Até que ponto estamos seguros?

Se uma Juíza de Direito, que no imaginário popular representa o supra-sumo do Poder Judiciário, não tem garantias de vida para exercer com isenção, coragem e severidade a sua função, o que dizer de nós, pobres mortais, sem eira nem beira, deixados à mercê dos malfeitores?

Então, alguém que se dispõe a combater o crime, de cara limpa, sem efeitos especiais, cinto de utilidades ou super poderes, deve abandonar o seu ideal de um mundo melhor, sem conflitos, sem deturpação da paz, preservando a dignidade humana, por temer que os responsáveis pelo caos atentem contra a sua vida?

Recentemente, salvo engano, o Fantástico exibiu a matéria intitulada “Manual de Sobrevivência”, com dicas para o cidadão se proteger de furtos, balas perdidas, assaltos em semáforos e por aí vai.

Bem profetizou Humberto Gessinger (Engenheiros do Havaí): “Nas grandes cidades, no pequeno dia a dia, o medo nos leva a tudo, sobretudo à fantasia. Então, erguemos muros, que nos dão a garantia, de que morreremos cheios, de uma vida tão vazia”.

Viramos reféns dos marginais!

Encarcerados, enjaulados, prisioneiros em nossos lares, supostos portos-seguros.

Os criminosos não temem, e sequer, respeitam as autoridades, estejam estas onde estiverem, em qualquer esfera do poder!

Vivemos num Sistema Judiciário falido, onde Desembargadores, aninhados em suntuosos gabinetes de mármore, despacham inúmeras decisões.
Na outra ponta, Delegados em condições super precárias de trabalho, sem equipamentos, sem pessoal suficiente, sem a menor condição de manter a Ordem e a Paz.
No meio do lamaçal, investigadores, Policiais Militares, Agentes Penitenciários, Comissários de Menores e toda a sorte de colaboradores do Sistema Judiciário.

Retratando a fragilidade do Judiciário, relato a minha experiência, enquanto Comissário do Juizado da Infância e da Juventude.
São inúmeras as situações, mas relatarei apenas quatro.
Gastaria pelo menos umas dez páginas para descrever, não só os casos, como as condições precárias de trabalho.

No primeiro caso, um adolescente suspeito de ter abusado sexualmente de uma criança, foi jurado de morte pelo tio, traficante.
Situação complicadíssima e bastante delicada. Por um lado, o asco pela atitude do adolescente. Por outro, a necessidade de proteger a vida do infeliz malfeitor.
É o nosso trabalho, fazer o quê?
Em nossas mãos, letras frias, imperativas: CUMPRA-SE!
Ordem dada, é ordem cumprida, parceiro!
Não cabia a nós, Comissários, decidir o que era certo e o que era errado.
O Homem da Capa Preta mandou, a gente faz!
Só que, nesse caso, a nossa missão era levar o adolescente de volta prá casa, próximo à residência do tio traficante, sem escolta policial, planejamento estratégico ou coisa parecida.
Literalmente, entregar o maldito cordeiro para o lobo sanguinário!
Infelizmente, um dos pontos fracos do Judiciário: a falta de um Serviço de Inteligência!
Não sei como terminou essa história, pois fui com outra Equipe fazer a fiscalização de rotina.

No segundo caso, recebi a determinação de fazer o abrigamento de uma adolescente, aparentando ter entre 13 e 14 anos.
Como de praxe, não perguntei à adolescente do que se tratava. Adotei essa prática quando, ao questionar uma criança sobre o motivo pelo qual havia sido encaminhada ao Juizado, recebi a inocente resposta: “Meu pai me estuprou”.
Meu mundo caiu!
De posse do Mandado de Abrigamento, fomos eu e dois motoristas, cumprir a tal Ordem Judicial. Sei que o bairro ficava lá nos cafundós do Judas! Sequer existia a rua no mapa!
Chegando ao abrigo, feitas as apresentações formais, entregamos a adolescente à pessoa responsável por sua guarda a partir de então. Retornando à viatura, percebi que os motoristas estavam pálidos e MUITO nervosos. Nem me deram tempo de perguntar do que se tratava e foram logo dizendo que a adolescente estava sob proteção porque fora jurada de morte.
O namorado traficante, recém preso, estava em guerra numa disputa por pontos de distribuição de drogas e o rival, agora dono do pedaço, pediu a cabeça da adolescente.
Quase tive um treco quando soube o valor da “carga” que havíamos transportado!
Sem orientação, sem escolta policial, sem proteção alguma, a não ser a Divina!
Qualquer vagabundo nessa cidade sabe muito bem para onde são encaminhados os adolescentes!
Logo, corremos um risco de vida imenso, pois a qualquer momento, uma emboscada poderia ter sido realizada na porta do Juizado, ou durante o trajeto, o que não seria nada difícil, pois passamos por vários locais ermos.

Terceiro caso: Transferência de Tutela. Retirar uma criança internada há 3 meses num hospital e levá-la para um abrigo.
Até aí, feijão com arroz.
Só que, chegando ao hospital, fomos informados que a mãe da menina, viciada em crack, havia invadido o local uma vez e tentou uma segunda, com o objetivo de resgatar a criança.
Não foi presa, era vista dia e noite rondando o hospital e, numa das últimas vezes em que apareceu, estava em companhia de um namorado, suposto traficante.
Uma beleza, né?
Retirar uma criança de um hospital público, tendo como escolta apenas Guardas Municipais desarmados e uma distância, ao ar livre, de uns 100 metros entre a portaria do hospital e a viatura.
Prá quem tá de fora, 100 metros equivalem a uns...100 passos?
Mas, prá quem tá no olho do furacão, alvo fácil, são uns 100 km, parceiro!
Aliás, eu disse escolta da Guarda Municipal?
Qual o quê !!!
Os camaradinhas nos levaram somente até a portaria e, de lá até a viatura, “é com vocês, parceiros!”
Pode parecer brincadeira, mas nessas horas é que a gente vê a morte de perto.
Um entra e sai de gente, você não sabe quem é quem, o perigo rondando, o cheiro da morte invadindo as narinas.
Prá melhorar o nosso quadro, viatura caracterizada do Tribunal de Justiça.
Não precisa ser um gênio para saber o resultado da operação “Juizado de Menores + Viatura” = Retirada de criança ou adolescente do hospital!
Com uma mãe ensandecida, acompanhada de um namorado criminoso à espreita, prontos para darem o bote!
Sem escolta policial, sem apoio, sem proteção.

Às vezes, naquela frase fria e imperativa “CUMPRA-SE”, juro que lia “DANE-SE”.

Quarto e último caso, para encerrar, talvez o que tenha metido mais medo no “Herói” aqui: recebi no meu plantão, um pai e um adolescente, vindos do interior, procurando proteção do Juizado.
Acolhi a dupla amedrontada e procurei me interar sobre o assunto.
Meu filho foi ameaçado de morte. Fugimos às pressas, foi só o tempo de colocar uma muda de roupa na mala. Passamos por duas cidades, mas ainda assim, os bandidos foram atrás. Aí fugimos prá BH, mas não podemos ficar zanzando prá lá e prá cá, porque temos medo de encontrar com um deles por aqui. Tem um lugar seguro prá gente ficar?”, disse o pai.
Bom, não basta simplesmente chegar no Juizado, contar uma historinha e conseguir uma vaga num abrigo. O adolescente que tem residência fixa e a proteção dos pais, não necessita de abrigamento. Mesmo porque, abrigo não é moradia, é apenas uma espécie de “hospedagem provisória”, até que o caso seja julgado. Pergunta daqui, pergunta dali, aos poucos fui ganhando a confiança do pai, que entregou um pouquinho mais da história. Como o adolescente estava ensimesmado (nuossaaaaa! Enfim consegui usar esse termo!), tentei puxar assunto.
Ô arrependimento, viu?
Um calafrio subiu pela minha espinha, as pernas tremeram, as mãos suaram, a boca secou...
O queixo só não caiu por que estava apoiado na mão!
O adolescente relatou, em detalhes, como assassinou friamente a facadas, o traficante que estava lhe cobrando uma dívida. Se não me falha a memória (naquela hora, o cérebro congelou), o adolescente começou no tradicional caminho que todo pobre drogado faz: é apresentado às drogas, torna-se um viciado, não tem como bancar o vício, trabalha pro tráfico.
Só que, nessa ai, “cheirou” uma carga de cocaína que havia pego prá vender.
Traficante não perdoa esse tipo de vacilo!
E cobra a dívida com a vida do infeliz!
O bandido só não esperava que o suposto “bundão” tivesse disposição para meter-lhe três facadas no bucho!
O que me deixou paralisado não foram apenas a riqueza de detalhes e a frieza com as quais o adolescente contava a sua pequena “aventura”.
O que, de fato, me fez querer levantar dali e sair correndo, foi a empolgação, o sangue que começava a tomar posse dos olhos daquele jovem matador.
Foi a primeira vez, em toda a minha vida, que estava cara a cara com um assassino!
Pior: um adolescente que matou a sangue frio!
Juro que pela minha cabeça passaram inúmeras situações!
Eu não podia sair da sala, pois pai e filho obstruíram a passagem com as cadeiras. Não dava prá usar o telefone, pois o nervosismo não me permitia tomar qualquer atitude. Prá piorar, já estava vendo a hora em que o adolescente, ensandecido, abriria a bolsa e tiraria a arma do crime, para me mostrar como tudo aconteceu!
O resto dessa história, deixo em off, por questões éticas.

A objetivo desses relatos não é a de abrir a “Caixa de Pandora” do Judiciário, denunciando falhas.

A real intenção é exatamente chamar a atenção da Sociedade, dos Governantes e das Autoridades para os perigos que cidadãos como a Meritíssima Juíza Patrícia Acioli, assim como eu, estão expostos, no estrito cumprimento do dever.

A sensação que tenho é que somos um nada.

Sem reconhecimento.

Sem proteção.

Jogados.

Quem bate, esquece. Quem apanha, jamais!

Meritíssima, descanse em paz!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

MUTRETAS S/A - POR DENTRO DAS LICITAÇÕES

(by Luiz Henrique Prieto)


Depois de um bom tempo sem postar nada por aqui, vamos retomar a falação.

Na década de 90, trabalhei em um escritório de representação comercial, que tinha como principais clientes, concessionárias de energia e empreiteiras, dentre outros.

Até então, nunca tinha ouvido falar de Concorrência Pública, Licitação ou Carta-Convite.

Não vou me demorar explicando esses conceitos, mesmo porque, o objetivo aqui não é esmiuçar o modo como são realizadas as compras.

O esquema de compras funciona da seguinte maneira: A Concessionária Xis publica um Edital, com as quantidades, especificações, etc., etc.

Quando se trata de Concorrência ou Licitação, qualquer Fornecedor pode participar, desde que atenda aos requisitos técnicos legais.

Na modalidade Carta-Convite, é enviado um convite aos fornecedores já cadastrados.

Até aqui, tudo normal, como manda o figurino.

Aí é que entra o “esquema” dos fornecedores.

Quando o valor total da compra é vultuoso, forma-se um cartel, no qual são acertados os preços entre os supostos concorrentes.

O Fornecedor A entra com o preço a R$ 0,10; O Fornecedor B, com R$ 0,09 e o Fornecedor C, com R$ 0,08.

Dentre as condições, também são oferecidos prazos de entrega, forma de pagamento e modalidade de entrega – CIF (no almoxarifado do cliente) ou FOB (o cliente retira no almoxarifado do fornecedor).

Bem, na teoria, nenhum fornecedor sabe as condições ofertadas pelos demais.

No entanto, por baixo dos panos, são acertadas todas as condições entre o cartel, de modo que permita uma rotatividade entre os ganhadores.

Invariavelmente, quando ocorre a sessão na qual são abertas as propostas, todos os fornecedores presentes já sabem, por antecipação, quem é o vencedor.

Passado todo o processo burocrático, com a emissão da respectiva Autorização de Fornecimento (AF), prossegue a malandragem.

Os fornecedores, não raras as vezes, descumprem os prazos de entrega.

Cansei de ver grandes lotes de produtos adquiridos sendo entregues a conta-gotas, sem que houvesse qualquer tipo de punição.

Em algumas situações, produtos prometidos para serem entregues em até 30 (trinta) dias, foram entregues com mais de SEIS MESES DE ATRASO!

Mas, por que a formação do cartel, descumprimento de prazos e Licitações Públicas com cartas marcadas?

Se vivêssemos numa sociedade justa e ética, jamais seriam permitidos tais abusos e os processos, além de transparentes, seriam confiáveis.

Contudo, o que vi durante o tempo em que trabalhei na área, foi um festival de safadezas, toma-lá-dá-cá, “uma mão lava a outra e por aí vai”.

Anualmente, uma entidade que representava os fornecedores, fazia uma espécie de vaquinha entre os integrantes dos cartéis, com a finalidade de oferecer uma festa de final de ano para, acreditem, OS COMPRADORES!

Não entendeu ainda?

O Comprador é a pessoa responsável por fazer cumprir o que foi apresentado nas propostas vencedoras, incluindo aí, o PRAZO DE ENTREGA!

Nessas festinhas, sempre estavam presentes, além dos compradores, pessoas que ocupavam cargos estratégicos, como Gerentes, Diretores e Presidentes.

E não se tratam de meros espelhinhos, como aqueles que a frota de Cabral entregou aos índios!

Nos dias atuais, os mimos equivaleriam a Tablets, Notebooks, iPhones, motocicletas e carros populares.

Ora, um comprador que recebe de presente um veículo zero km, vai ter coragem de cobrar do seu anfitrião alguma coisa?

JAMAIS!

Várias Licitações foram promovidas, aliás, direcionadas para apenas um fornecedor.

Como na descrição do material a ser adquirido não se pode exigir determinada marca, coloca-se apenas a referência. Por exemplo: alicate bomba d’água, referência Fabricante Xis.

Como não existe concorrência no mercado, obviamente vencerá o Fabricante Xis.

E, acreditem, alguns alicates por aí custam mais do que um carro popular!

Essa aí é apenas a ponta do iceberg.

O escritório ficou em polvorosa quando foi lançada uma Concorrência, salvo engano, a nível mundial, para a construção de uma série de hidrelétricas, lá prás bandas da Europa.

Lembro que, na época, o valor total do processo girava algo em torno de US$ 500 milhões!!!

É, MEIO BILHÃO DE DÓLARES mexe com a cabeça de qualquer um, néam?

Nesse período, a internet engatinhava no Brasil.

Viajar para outro estado, só prá quem tinha grana mesmo.

Logo, várias conversas, acordos, mutretas, enfim, eram realizados a portas fechadas, ou através do bom e velho telefone e pelo já quase aposentado aparelho de fax.

Entre uma conversa e outra, acompanhando o entra e sai de engravatados, foi possível pescar o que estava acontecendo.

Formou-se um consórcio que, sei lá como, teve acesso às demais propostas dos concorrentes.

Vencida a primeira etapa, houve um empate entre dois consórcios: um nacional e outro internacional.

Contudo, o Departamento responsável por bater o martelo, ficava em terras tupiniquins.

Resumindo a ópera: o consórcio nacional bombardeou a pessoa que analisava os processos com inúmeros presentinhos (viagem a balneários, notebooks, hospedagem em hotéis, passagens aéreas, visitinha a Bariloche e por aí vai).

Enfim, o que vemos por aí retratado em escândalos, propinas, subornos e afins, já é praticado há décadas em todas as esferas do Poder.

Alguns faturam “Mils”, outros “Milhares” e uns poucos “Milhões”.

Daí concluo que, dificilmente acreditarei num processo “transparente”, onde um ou outro não será beneficiado, direta ou indiretamente.

Ah, adivinhem se o consórcio nacional abocanhou a concorrência?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

DOUTORAS - HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES


(Desconheço a autoria)


Certo dia, uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carteira de motorista.

Quando lhe perguntaram qual era a sua profissão, ela hesitou. Não sabia bem como se classificar.

O funcionário insistiu: "- O que eu pergunto é se tem um trabalho".


"- Claro que tenho um trabalho", exclamou Anne. "- Sou mãe".

"- Nós não consideramos isso um trabalho. Vou colocar dona de casa". Disse o funcionário friamente.

Uma amiga sua, chamada Marta, soube do ocorrido e ficou pensando a respeito por algum tempo.

Num determinado dia, ela se encontrou numa situação idêntica. A pessoa que a atendeu era uma funcionária de carreira, segura, eficiente.

O formulário parecia enorme, interminável.

A primeira pergunta foi: "- Qual é a sua ocupação?"

Marta pensou um pouco e sem saber bem como, respondeu:

"- Sou doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas".

A funcionária fez uma pausa e Marta precisou repetir pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.

Depois de ter anotado tudo, a jovem ousou indagar:

"- Posso perguntar o que é que a senhora faz exatamente?"

Sem qualquer traço de agitação na voz, com muita calma, Marta explicou:

"- Desenvolvo um programa a longo prazo, dentro e fora de casa".

Pensando na sua família, ela continuou: "- Sou responsável por uma equipe e já recebi quatro projetos. Trabalho em regime de dedicação exclusiva. O grau de exigência é de 14 horas por dia, às vezes até 24 horas".

À medida que ia descrevendo suas responsabilidades, Marta notou o crescente tom de respeito na voz da funcionária, que preencheu todo o formulário com os dados fornecidos.

Quando voltou para casa, Marta foi recebida por sua equipe: uma menina com 13 anos, outra com 7 e outra com 3.

Subindo ao andar de cima da casa, ela pôde ouvir o seu mais novo projeto, um bebê de seis meses, testando uma nova tonalidade de voz.

Feliz, Marta tomou o bebê nos braços e pensou na glória da maternidade, com suas multiplicadas responsabilidades. E horas intermináveis de dedicação.

"Mãe, onde está meu sapato? Mãe, me ajuda a fazer a lição? Mãe, o bebê não para de chorar. Mãe, você me busca na escola?
Mãe, você vai assistir a minha dança? Mãe, você compra? Mãe..."

Sentada na cama, Marta pensou: Se ela era doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas, o que seriam as avós?

E logo descobriu um título para elas: Doutoras-sênior em desenvolvimento infantil e em relações humanas.

As bisavós, Doutoras executivas sênior.

As tias, doutoras-assistentes.

E todas as mulheres, mães, esposas, amigas e companheiras: Doutoras na arte de fazer a vida melhor.


* * *

No mundo em que os títulos são importantes, em que se exige sempre maior especialização, na área profissional, torne-se especialista na arte de amar.

Como excelente mestra, ensine aos seus filhos, através do seu exemplo, a insuperável arte de expressar sentimentos.

Ensine a difícil arte de interpretação de choro de bebê e de secar lágrimas de adolescente.

Exemplifique a renúncia, a paciência e a diplomacia. E colha, vitoriosa, ao final de cada dia, os louros do seu esforço nos abraços dos seus filhos e na espontaneidade de suas manifestações de
afeto.


FELIZ DIA DAS MÃES



quinta-feira, 28 de abril de 2011

HP - HAJA PACIÊNCIA! O DESCASO DA HEWLETT-PACKARD COM OS SEUS CONSUMIDORES

A novela com a HP – Hewllett-Pakcard, começou no final de dezembro, quando precisei trocar meu computador e optei por um notebook.
Depois de pesquisar algumas marcas, acabei encontrando um equipamento da HP, no site do Walmart que, a princípio, parecia atender às minhas necessidades.
O que de fato contribuiu para a minha decisão foi a exclusividade que o Walmart detinha sobre o produto.
A Nota Fiscal foi emitida em 06/01/2011, tendo recebido o produto em casa em 10/01/11.

Na semana de 6 a 12/03/11, o Sistema Operacional começou a apresentar alguns problemas, mas como o notebook voltava a funcionar, depois de reiniciado, não dei a devida importância, principalmente por tratar-se de produto novo e de qualidade.

Em 13/03/11, o notebook parou de funcionar, em definitivo.
Fiz contato com o Suporte Técnico da HP, via telefone e, após mais de uma hora seguindo as orientações do Técnico, não consegui solucionar o problema.
De acordo com o Técnico, a HP enviaria, via postal, as mídias necessárias para a reinstalação do Sistema Operacional em no máximo 7 (sete) dias úteis.
Conforme a orientação, o prazo terminaria em 22/03/11.

No entanto, recebi as mídias somente em 01/04/11.
Entrei em contato com a HP e, novamente seguindo as orientações do Técnico, tentei reinstalar o Sistema Operacional.
Depois de várias tentativas, sob a orientação do Técnico, não obtive êxito.
Entrei em contato novamente com a HP, que informou sobre a necessidade de abrir uma Ordem de Serviço, para que o notebook pudesse ser enviado para a Assistência Técnica.

Segundo o funcionário da HP, as orientações seriam enviadas por e-mail, em até 48 h.
Aguardei o prazo estipulado pela HP e, como não recebi nenhuma resposta, voltei a ligar para o Suporte.

Desde então, não tenho conseguido receber o e-mail com as orientações.
Em todas as ocasiões, nas quais fiz contato com o Suporte, embora já constasse o número do protocolo, precisei repetir toda a trajetória desde o dia 13/03/2011.

O que me deixou de fato muito preocupado, foi a confirmação de uma das funcionárias acerca do número de série do notebook!
A HP usa o alfabeto internacional como referência, a fim de facilitar o entendimento e evitar informações erradas.
No entanto, quando a funcionária da HP soletrou “C” de Quênia, tive a certeza da péssima qualidade do serviço prestado.

Em uma outra ocasião, soletrei para a atendente o e-mail, citando GRÉCIA - OXFORD - VENEZUELA, o que resultaria em um e-mail com a extensão GOV.
Dias depois, em novo contato com a HP, a atendente informou que o e-mail havia sido enviado e que EU não havia respondido.
Pedi à mesma que confirmasse para qual e-mail havia sido enviada a orientação e fui surpreendido com a seguinte resposta: “...foi enviado para fulanodetal@órgãopúblico.GOVE.br”!
Depois de corrigir o e-mail, fui informado que receberia a orientação em 24 h.

Novamente, nada de receber o e-mail!
Em novo contato, o funcionário disse que a atendente anterior não havia aberto o Ordem de Serviço e que trataria de reenviá-la.

Em 13/04/2011, recebi um e-mail do Suporte da HP, solicitando que eu entrasse em contato com urgência, por motivo de “Prazo excedido para entrega do produto no Centro de Serviço”.

Ora, como pode o prazo ter excedido se sequer recebi o e-mail com a orientação?

Novo contato com a HP, a atendente, embora eu houvesse explicado toda a situação, afirmou que a culpa era minha, por não ter levado o equipamento no tempo hábil.
Com muito custo, a moça abriu nova Ordem de Serviço. Ou pelo menos fingiu que abriu!

No dia 25/04/11, como ainda não havia recebido o e-mail, fiz novo contato com a HP, sendo informado pela atendente que o prazo para a solução do problema havia se esgotado, sendo necessária a abertura de um novo procedimento.
Transferido para outro setor, fui atendido por um funcionário que mostrou-se prestativo, chegando inclusive a dizer que o seu supervisor estaria ao lado, para ajudá-lo.

Satisfeito com a presteza do funcionário, aguardei as 24 h de praxe e NADA de chegar o e-mail.

Novo contato, nova decepção!
Fui informado pela atendente que o rapaz prestativo não havia registrado a Ordem de Serviço no Sistema e que ela o faria, sendo que, no prazo de 48 h estaria recebendo o e-mail com as orientações.

O último contato foi em 27/04/2011, às 15:19 h.

Cabe ressaltar que, nas inúmeras ligações que fiz para a HP, fiquei cerca de 20 a 30 minutos para ser atendido pelo PRIMEIRO funcionário!

Noutras oportunidades, a ligação sequer era completada!

Em outra ocasião, quando dei sorte de ser atendido rapidamente, a ligação foi transferida para o setor de impressoras. O atendente se desculpou, dizendo que as linhas estavam congestionadas.

Linhas de SAC congestionadas = MUITOS CLIENTES COM PROBLEMAS!

Hoje completo 47 (quarenta e sete) dias sem o notebook!

O equipamento, teoricamente de qualidade, apresentou defeito com apenas 65 (sessenta e cinco dias) após o uso.

Tentei, em vão, uma solução junto ao Walmart, revendedor do produto.

Contudo, recebi a seguinte resposta: “Esclarecemos que a troca ou devolução do produto por defeito ou arrependimento, só pode ser solicitada em até 07 dias corridos a contar da data de entrega do produto. Como o item adquirido, consta como entregue, na data do dia 10/01/2011 pela transportadora Tex Log LTDA. Dessa forma, infelizmente não temos como realizar esta troca. Solicitamos que o produto seja encaminhado à assistência técnica mais próxima de sua residência.
Pedimos desculpas pelo inconveniente causado e permanecemos à disposição para mais esclarecimentos”.

OU SEJA: RECORRERAM AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR PARA LAVAREM AS MÃOS! E QUE SE DANEM OS CLIENTES!!!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

REALENGO - QUEM É O VERDADEIRO ASSASSINO?

(by Luiz Henrique Prieto)

Agora que a poeira baixou, hora de dar meu pitaco!

A tragédia de Realengo, que assolou o país na semana passada, ganhou ares de massacre, chacina, falha na segurança pública, fanatismo religioso, dentre outros.

Alguns bocudos chegaram a dizer que a solução seria a implantação de detectores de metais, como se isso fosse resolver o problema!

A Igreja supostamente freqüentada pelo rapaz, tratou rapidamente de emitir uma nota oficial, obviamente, querendo desvincular o seu culto da ação do atirador.

Outros, disseram que o rapaz jamais sofrera bullyng, fato desmentido pela turma que atazanou a adolescência do moço!

Uns terceiros, afirmaram que o rapaz teve treinamento especializado para manusear as armas, incluindo o manuseio do carregador rápido.

Enfim, muita asneira foi dita e cada um tratou de tirar o seu da reta, rapidinho!

Não lembro exatamente quando, mas um bocudo lá de Brasília caiu na asneira de dizer (na época em que foi descoberto mais um escândalo no ensino público, onde foram detectados inúmeros professores-fantasmas) que seriam instalados relógios de ponto digitais nas escolas.

Bom, o malfadado político, obviamente mal assessorado, esqueceu apenas que, várias escolas no Brasil sequer têm espaço decente para os alunos, com alunos assistindo aulas embaixo de bananeiras, ou em salas improvisadas com lonas.

Fico impressionado com o tanto de especialistas que apresentaram um sem-número de soluções para o caso do atirador.

Aproveito para abrir aspas e perguntar aos religiosos, independente da religião: vocês rezaram pelo rapaz que disparou os tiros?
Ou também condenaram o pobre-diabo, como o fez apressadamente a sociedade?
Ora, nas escritas sagradas não os ensinaram a perdoar a TODOS?

O fato é que, como vende padaná, a notícia estampou a capa das principais revistas semanais, ocupou um tempo considerável nos telejornais, nas rádios e nos programas especializados em entreter o público com a desgraça alheia.

O povo brasileiro, bobo que só, ficou perplexo!

Hoje, 18/04/11, praticamente ninguém comenta mais nada sobre o caso.

Ah, a polícia, mais do que depressa, tratou de prender aqueles que venderam ou intermediaram a venda das armas ao rapaz, dando uma resposta imediata à sociedade que clamava por um bálsamo.

Nooossaaaaa!

Parabéns à polícia, que elucidou rapidamente o caso!

O delegado, satisfeito com a prisão dos 3 acusados, negou-se a seguir qualquer linha de investigação que fosse divergente do que era conveniente e polêmico.

Porque então, não agem da mesma maneira quando crimes "não famosos" são cometidos?

Porque não dão Ibope, né?

Ou será que os extermínios ocorridos em favelas e bairros pobres, onde predomina o abandono do Poder Público não são considerados massacres, chacinas?

Mas, porque resolvi escrever somente agora?

Ora, porque a população brasileira crucifica um ato isolado, embora demasiadamente violento, mas não está nem aí para os crimes cometidos diariamente!

Como aquele da garotinha exibida no Globo Repórter (que tratou do descaso na Saúde Pública), que morreu praticamente na frente da equipe de reportagem, com a médica indignada por não poder fazer o que jurou quando recebeu o seu diploma: salvar vidas!

Milhões e milhões de reais desviados, sem que qualquer filho da puta tenha sido preso!

Quando se consegue por a mão nesses canalhas, por mais que sejam processados e condenados, o dinheiro desviado já era!

Somemos quantos inocentes morrem, diariamente, por falta de um Sistema Público de Saúde decente e, no decorrer de um ano, teremos muitos assassinos do colarinho branco!

Pior: não são manchetes nos jornais, não estampam capas de revistas e, se bobear, são reeleitos com uma maioria esmagadora de votos!

Tudo isso, se considerarmos apenas as vítimas dos canalhas da saúde!

Sequer falamos dos inocentes que, acreditem, morrem de inanição, em pleno Século XXI!

É isso aí, meus caros...

“O Monstro de Realengo” jaz, inofensivo, enquanto os “Monstros Assassinos” continuam no poder, vivinhos da silva, embolsando verbas, superfaturando obras e matando, diariamente, com o aval da população!

(*) Luiz Henrique Prieto é integrante do Núcleo de Comunicação da CUFA - Central Única das Favelas, Base Belo Horizonte e colunista da CUFA BRASIL.


Twitter: @LHprieto

sábado, 12 de março de 2011

A Mulher Mineira - por Drumond

O SOTAQUE DAS MINEIRAS


O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar.
Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais,
como é que o falar, sensual e lindo ficou de fora?

Porque, Deus, que sotaque!

Mineira devia nascer com tarja preta avisando:
Ouvi-la faz mal à saúde.

Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para
assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso?
Assino achando que ela me faz um favor.

Eu sou suspeitíssimo.
Confesso: esse sotaque me desarma.
Certa vez quase propus casamento a uma menina que
me ligou por engano, só pelo sotaque.

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem:
pode parar, dizem:"pó parar").

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas,
supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem -
lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs.

Digo-lhes que não.
Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade.
Fala que ele é bom de serviço.

Pouco importa que seja um juiz de direito,
um jogador de futebol ou um ator de filme pornô.
Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de
serviço.

Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas
há de perguntar pra outra: "cê tá boa?"

Para mim, isso é pleonasmo.
Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário.

Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer:
Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).

O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos significados.
Quer dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com que você mexe, não fique ofendido.
Querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir.
Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta.

Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo,
você liga e diz:
Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não,sô.

Esse "aqui" é outro que só tem aqui.
É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública,
de qualquer frase.
É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe
dando muita atenção: é uma forma de dizer, "olá, me escutem, por
favor".
É a última instância antes de jogar um pão de queijo
na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por".
Dizem, sabe-se lá por que, "pêxonado com".
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora: "Ah, eu pêxonei com ele...".
Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você,
um carro, um cachorro).
Elas vivem apaixonadas "com" alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe.
É um tal de "bonitim", "fechadim", e por aí vai.
Já me acostumei a ouvir: "E aí, vão?".
Traduzo: "E aí, vamos?".

Não caia na besteira de esperar um "vamos" completo de uma mineira.
Não ouvirá nunca.

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela,
mas prefiro, com todo respeito, a mineira.
Nada pessoal.
Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas.

No supermercado, não faz muitas compras, ele compra "um tanto de côsa".
O supermercado não estará lotado, ele terá "um tanto de gente".
Se a fila do caixa não anda, é porque está "agarrando" [aliás,
"garrando"] lá na frente.
Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com
pena, suspirará: Ai, gente, que dó.
É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras.

Não vem caçar confusão pro meu lado.

Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro "caça confusão".
Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para
se fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Para uma mineira falar do meu desempenho sexual, ou dizer que algo é
muitíssimo bom vai dizer: "Ô, é sem noção".

Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem, leitora, idéia do "tanto
de bom" que é.

Só não esqueça, por favor, o "Ô" no começo, porque sem ele não dá para
dar noção do tanto que algo é sem noção, entendeu?

Capaz... Se você propõe algo e ela diz: capaz!!!

Vocês já ouviram esse "capaz"? É lindo.
Quer dizer o quê? Sei lá, quer
dizer "ce acha que eu faço isso"? com algumas toneladas de ironia...

Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: "Ô dó dôcê".

Entendeu? Não? Deixa para lá.

É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."?
Completo ele fica:- Ah, nem...
O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o
pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum.
Mas de jeito nenhum.

Você diz: "Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?".
Resposta: "Nem..."

Ainda não entendeu? Uai, nem é nem.

Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?

A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?".

A pergunta, mineiramente falando, seria: "cê não anima de ir"?

Tão simples. O resto do Brasil complica tudo.

É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...

Falando em "ei...".

As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o "ei" no lugar do "oi".
Você liga, e elas atendem lindamente: "eiiii!!!", com muitos pontos de
exclamação, a depender da saudade...

Tem tantos outros...

O plural, então, é um problema.
Um lindo problema, mas um problema.

Sou, não nego, suspeito.

Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares
das mineiras.

Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja
com a razão.

Se você, em conversa, falar: Ah, fui lá comprar umas coisas..
Ques côsa? - ela retrucará.
O plural dá um pulo.
Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um "pelas metade", no lugar de "pela metade".
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará:
Ele pôs a culpa "ni mim".

A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios em Minas...

Ontem, uma senhora docemente me consolou:
"prôcupa não, bobo!".
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se
espantam.
Talvez se espantassem se ouvissem um:
"não se preocupe", ou algo assim.

A fórmula mineira é sintética. E diz tudo.
Até o "tchau" em Minas é personalizado.
Ninguém diz tchau pura e simplesmente.
Aqui se diz: "tchau procê", "tchau procês".
É útil deixar claro o destinatário do tchau.
Então..."

Um abraço bem apertado procê.

Texto atribuído a Carlos Drumond de Andrade

segunda-feira, 7 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher - Arnaldo Brandão

ALGUMAS MULHERES


(Arnaldo Brandão)



Mulheres lutam boxe e viram freiras
Decidem eleições e pedem paz
As perfumadas cheiram como princesas
As loucas são tão boas, como as que são más

Mulheres querem mel, mesmo sendo abelhas
E, de tão vaidosas, querem muito mais
Se entregam ao prazer, possuídas
E todas ficam lindas, quando bem amadas

Mulheres podem ser
À lua cheia
Serpentes nos jardins de Allah
São deusas quando dão luz às estrelas
E à vida que um dia, veio do mar

Algumas mulheres, amam outras mulheres
Melhor do que alguns homens conseguem amar
As belas têm poder
As noivas sorte
Prostitutas viram santas quando gozam

Mulheres têm mistérios e se entendem
E uma vez por mês se deixam sangrar
Nos salões de beleza, feiticeiras
Se enfeitam simplesmente para se apaixonar

Dia Internacional da Mulher - Martha Medeiros

OUTRO TIPO DE MULHER NUA



(Martha Medeiros)




Depois da invenção do photoshop, até a mais insignificante das criaturas vira uma deusa, basta uns retoquezinhos, aqui e ali.

Nunca vi tanta mulher nua!
Os sites da internet renovam semanalmente seu estoque de gatas vertiginosas.
O que não falta é candidata para tirar a roupa. Dá uma grana boa.
E o namorado apóia, o pai fica orgulhoso, a mãe acha um acontecimento, as amigas invejam, então pudor pra quê?

Não sei se os homens estão radiantes com esta multiplicação de peitos e bundas. Infelizes não devem estar, mas duvido que algo que se tornou tão banal ainda enfeitice os que têm mais de 14 anos.

Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade...

Emocionalmente!

Nudez pode ter um significado diferente e muito mais intenso.

É assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história.

É erótico uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente.

Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos.

Aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas, e não bonecas de porcelana.

Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em que sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais.

Pouco tempo atrás, posar nua ainda era uma excentricidade das artistas, lembro que se esperava com ansiedade a revista que traria um ensaio de Dina Sfat, por exemplo - prá citar uma mulher que sempre teve mais o que mostrar além do próprio corpo.

Mas agora não há mais charme nem suspense, estamos na era das mulheres coisificadas, que posam nuas porque consideram um degrau na carreira.

Até é.

Na maioria das vezes, rumo à decadência.

Escadas servem para descer também!

Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal, mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior.

Mas é o que devemos continuar fazendo!

Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos, o que trazemos por dentro.

Não conheço strip-tease mais sedutor.

Dia Internacional da Mulher - Mulheressência

MULHERESSÊNCIA


(Luiz Henrique Prieto)



Mulher, ser Divino
Tirada das Costelas de Adão
Será? Não sei não!
Afinal, como pode algo tão lindo
Descender de um pobre varão?

Embala, em teus braços,
Milhões de meninos
Nos lábios entoa
Suave canção

Mulheres-frutas
Algumas, azedas
Mulheres são divas
Desfilam beleza

Ainda que tristes
Esbanjam sorrisos
Pois guardam segredos
Há muito contidos

Mulher empresária
Mulher é pedreira
Mulher operária
Mulher parideira

Mulher cantora
Mulher meretriz
Mulher sofredora
Mulher feliz.

Mulher tomba-homem
Mulher arretada
Mulheres da vida
Mulher depravada

Mulher companheira
Mulher bordadeira
Mulher do cangaço
Mulher da peneira

Helenas de Tróia
Cleopátras, Rainhas
Giseles, Madonas
Mulher-paraíba

Mulher, do teu ventre
Brota a essência da vida
Em teu seio repousa
A seiva divina.

Dia Internacional da Mulher - Mulheres

Mulheres



(by Luiz Henrique Prieto)


Têm o seu dia todo especial, 8 de março, declarado o “Dia Internacional da Mulher” em homenagem à luta do sexo frágil por reconhecimento, igualdade de direitos e, acima de tudo, o seu papel na sociedade.

Passados cento e tantos anos, a luta continua, cada vez mais acirrada.

Difícil à beça prá mulher conquistar o seu lugar ao sol.

Num universo cada vez mais machista e exigente, as belas têm o seu lugar.

Afinal, quem é que quer ter uma baranga como secretária ou recepcionista?
Peitos e bundas siliconados, lábios preenchidos com botox, escova de diamante, dentes artificialmente clareados, pele esticadinha...uma brasa, mora?

Deusas intocáveis!

Mas sem nadica de nada na cabeça!
Na hora do rala-e-rola, tadinho do amado.
Sequer pode tocar no botox ou no silicone.
Borracha por borracha, sou mais uma mulher inflável.
E numa roda de amigos, bate papo correndo solto, a Deusa abre a boca e...
Melhor nem falar!

Em tempos de photoshop, qualquer dragão vira princesa!
Mas basta uma escorregadinha, um paparazzi mais atento e...zás!
Lá se vai a deusa perfeitinha!

Sou mais a mulher comum, a não-deusa.
Aquela que tem celulite, estria, que se comporta como requer o seu gênio e não como convém à sociedade.

Daquela s mesmo, que acham graça nas pequenas besteiras que dizemos, mas que viram feras quando desafiadas.

Dessas que menstruam e têm TPM e não se envergonham em falar de tal coisa.

Mulher que lava, que passa, que ri e que chora, que é mãe e menina, que dá colo e que quer colo.

Mulher que trabalha fora, que assume o papel de chefe de família, mas que não importa em ser gentilmente mandada prá cama, prá descansar, enquanto o amado cuida das tarefas domésticas.

Gosto de mulher que se assume, forte, frágil, seca, melosa, que assume outra mulher.
Mulher que adora escrever (e receber) bilhetinhos, seja com um pequeno poema, ou um simples coraçãozinho desenhado.
Mulher desastrada, nem sempre certinha.
Mulher que atrasa, mulher que improvisa.
Mulher que não tem vergonha de perguntar quando não sabe e que tem paciência de explicar o que nenhum homem consegue entender.
Mulher que é a primeira a acordar e a última a dormir.
Arrumando o marido, mandando os filhos à escola, cuidando da casa, arrumando o almoço, o café e a janta.

E ainda vem um infeliz, dizer que você não faz nada?

Mulher tem mais é que ficar na sua, no seu lugar de origem!
Sem essa de dirigir caminhão, conduzir grandes empresas,
Governar uma nação!

Mulher tem mais é que ficar num pedestal, sendo amada, idolatrada, respeitada e tratada com muito carinho.

quarta-feira, 2 de março de 2011

NOVE PASSOS

NOVE PASSOS PARA UMA COLHEITA FARTA



(Luiz Henrique Prieto)





1. Conhecer o terreno;



2. Saber o que dá prá ser plantado;



3. Preparar a semente;



4. Preparar o terreno;



5. Lançar a semente;



6. Ter paciência e cuidados durante a germinação.
Cada semente tem o seu tempo;



7. Cuidar do crescimento da planta, adubando, regando, afastando pragas e ervas daninhas.
Nada de apressar o crescimento!



8. Aguardar o amadurecimento dos frutos, para colhê-los na hora certa.
Nem verdes, nem podres.
Apenas maduros.



9. Após a colheita, preparar novamente o terreno, para a próxima safra.
Quem sabe, uma rotatividade de culturas?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ÍDOLOS - ELEJA O SEU!

(Luiz Henrique Prieto)


No afã de aplacar nossas necessidades, ou mesmo pela absoluta falta do que fazer, criamos ídolos.

E nos escravizamos!

Pode ser um artista, um jogador de futebol, um piloto, talvez até mesmo alguém bem próximo da gente.

Refletimos em um ídolo tudo aquilo que temos vontade de ser / fazer, mas não tivemos coragem o suficiente para colocar em prática.

É isso mesmo: faltou CORAGEM, ATITUDE!

Nenhum ídolo chegou aonde chegou porque nasceu com o fiofó virado prá lua.

Mesmo aqueles que “tiveram a sorte” de nascer com todas as oportunidades possíveis e impensáveis, suaram muito a camisa para chegar ao topo.

Chegar ao topo.

Não é tão difícil quanto se pensa.
Manter-se no topo sim, dá uma trabalheira danada!

Uma das piores etapas da idealização é a mitificação, quando transformamos meros mortais em deuses.

Tsc, tsc.

Transferimos nossos sonhos e frustrações para os nossos ídolos.
E os coitados, às vezes, nem sabem da nossa existência, da nossa adoração.

Brigamos, defendemos, fazemos das tripas coração para estarmos próximos dos ídolos.

E eles nem tchum prá gente.

Claro que tem aqueles ídolos famosos, muito bem assessorados, que tentam passar uma imagem de bonzinhos para o público em geral.

Nem ia tocar no assunto “Fenômeno”, que pendurou as chuteiras essa semana.

Cidadão de bem, ídolo, mito, fenômeno.

Um herói que fez muito pelo Brasil!

Ahhhh, façam-me o favor!!!

Sério mesmo que o Fenômeno fez alguma coisa pela Pátria Amada?

Fez fama e carreira onde mesmo?

O rico dinheirinho tá guardado onde?

Particularmente, a mim não fez diferença nenhuma, o que esse cabrito fez pelo Brasil.

Enquanto milhares, talvez milhões de pessoas, lamentavam a “aposentadoria” do dito “Fenômeno”, o Congresso Nacional votava o “aumento” do salário mínimo.

Pão e Circo.

E disso que o povo gosta.

É isso que o povo quer.

Se tiver que eleger algum ídolo prá chamar de seu, dá um pulinho no banheiro, olha no espelho e diga prá ele, com firmeza:

Ei, psiu! Agora o meu ídolo é você!

P.S.: Tive que parar por aqui, porque descobri que a soma dos quadrados do capeta é igual ao cabelo da Medusa!

Prá não ficar demodê, tô sofrendo de hipo-sei-lá-o-quê-que-mia. =^^=

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pessoas Invisíveis

(por Luiz Henrique Prieto)


Rio de Janeiro, Julho de 1978: Nasce Sandro do Nascimento, vulgo “Mancha”.

Belo Horizonte, Junho de 1973: Nasce Henrique Silva, vulgo “Duca”.

O que têm em comum esses dois personagens tão distintos, nascidos em cidades diferentes?

Ambos tornaram-se, em algum momento da vida, “Pessoas Invisíveis”!

Mancha ganhou notoriedade ao seqüestrar, em junho de 1990, um ônibus da linha 174, no Rio de Janeiro, quando manteve várias pessoas como reféns.

Recentemente, uma emissora de televisão reprisou “Última Parada 174”, filme de Bruno Barreto, onde é retratada de maneira poética, toda a trajetória de Sandro do Nascimento, o “Mancha”, da infância ao fatídico desfecho, quando morreu asfixiado por policiais, após ter tentado descer do ônibus com uma refém.

O que o filme não mostra, porém, são os bastidores da história de Mancha, as lacunas que não foram preenchidas e a mensagem de caráter social implícita nas entrelinhas.

Deixando de lado a parte artística de “Última Parada 174”, episódio que foi esmiuçado por toda a sorte de especialistas, vamos ater-nos à questão social implícita.

Em meados de 2006, Duca fazia a entrega de uma revista em quadrinhos, de caráter educativo, em um cruzamento de Belo Horizonte.

Ao aproximar-se dos veículos, sorridente, começou a perceber que não era bem quisto por ali, embora estivesse bem vestido, uniformizado e tratando as pessoas com um gentil “Bom Dia!”, seguido de um sorriso cordial.
Alguns motoristas simplesmente erguiam a mão espalmada, em sinal negativo, dizendo “Não quero comprar, obrigado!”.
Outros se limitavam a acionar o vidro automático, que se fechava na cara do gentil panfleteiro. Contudo, a grande maioria, de dentro de seus veículos possantes, vidros escuros e ar condicionado, sequer olhavam para o lado, atendendo aos insistentes apelos de Duca.

Nascia ali, para Duca, o conceito de “invisibilidade social”.

Naquele dia, Duca foi prá casa, decepcionado!
Distribuíra tantos sorrisos, tantas gentilezas, debaixo de um sol forte, horas em pé, tentando trazer uma mensagem de caráter educativo, que beneficiaria àqueles motoristas, e sequer fora notado por muitos!

Decidiu transformar aquela experiência negativa em algo verdadeiramente positivo.

Passou a cumprimentar, diariamente, todas as “pessoas invisíveis” que encontrava pelo caminho.
E observava, no olhar e nas reações de cada uma delas, a felicidade em saber que alguém as havia notado!

Duca trabalhou durante 13 anos como Orientador Social de adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas, medidas estas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
Trabalho voluntário, sem qualquer remuneração.

Percebeu, ao longo deste período, que pouquíssimas pessoas importavam-se realmente em reintegrar um “jovem delinqüente” à Sociedade.

O Programa Sócio-Educativo consiste em dois momentos, ou módulos.

No primeiro módulo, os adolescentes são encaminhados pelo Juiz de Direito, através de Entidades de Assistência Social, para o cumprimento da respectiva medida sócio-educativa.

Na sua grande maioria, adolescentes oriundos de comunidades carentes, famílias destruídas, ou ainda, vítimas do abando e da violência.

Os jovens, com autoestima em baixa, são submetidos a aulas de artes circenses, jogos teatrais, apoio psicológico e todas as ferramentas disponíveis que permitam o resgate da dignidade.
Trabalham em grupo, com um número considerável de adolescentes que compartilham as mesmas dores, os mesmos sofrimentos, como se todos fossem parte de uma grande família.

No segundo módulo, os adolescentes são preparados para o mercado de trabalho, atuando como aprendizes, office-boys, office-girls, auxiliares de secretárias e por aí vai.
Neste módulo, ocorre a desfragmentação da “grande família”!

Nesta etapa, os jovens misturam-se às pessoas ditas “normais”, sem delitos, sem “ficha suja”.

O comportamento inicial dos adolescentes limita-se a andar de cabeça baixa, falar pouco, criando um ser introspectivo.

A tarefa de “puxar a língua” desses jovens cabe não apenas ao Orientador Social, mas a todos ali envolvidos.

Contudo, a sociedade, ali representada pelos funcionários, enxerga o adolescente como um “pequeno marginal, sem recuperação”, o que por si só acaba de vez com a autoestima do jovem.

Em algumas gerências (locais para os quais os adolescentes são encaminhados, após concluírem o primeiro módulo), são esquecidos como um objeto qualquer!
Geralmente, são colocados numa mesa à parte, sem acesso a telefone ou computador, isolados do convívio como os demais funcionários.
A esses jovens, são atribuídas tarefas de pouquíssima ou quase nenhuma importância: buscar água, trocar a garrafa de café, carregar móveis e caixas e por aí vai.

São tratados como “Coisinha”, “o Boy”, “a Girl”, “os meninos da AMAS”.

E isolam-se cada vez mais!

Mesmo antes de passar pela experiência negativa no sinal, Duca procurou despertar nestes jovens o interesse pela re-inclusão social. Já que não dava prá ser de um jeito, seria de outro.
Começou a inserir os adolescentes nos eventos promovidos pelo setor de trabalho, indo desde a apresentação formal dos jovens recém-chegados à participação em festas e eventos promovidos pelos funcionários.
Apresentava os jovens para a equipe, fazendo questão de que cada um olhasse os jovens nos olhos e os chamassem pelo nome, frisando: “Estes são Fulano e Sicrano, nossos novos colaboradores!”.

A mudança era quase instantânea!
Via-se no olhar dos outrora “Zé Ninguém”, um brilho de esperança!

E Duca começou a tratá-los como iguais, cumprindo as mesmas tarefas, ensinando, aprendendo, compartilhando experiências positivas e negativas, conversando sério, contando piadas, ouvindo opiniões, interagindo com os adolescentes.

Inúmeras vezes sentou à mesa com o grupo de jovens invisíveis para almoçar, partilhar histórias e casos.
Com essas atitudes, ganhou o respeito e a admiração dos jovens!

Mas, onde entra o “Mancha” nessa história?

O que os filmes não contam, mas vários artigos, incluindo o documentário “Ônibus 174”, do diretor José Padilha, é que Mancha assistiu ao assassinato da mãe, quando ainda era criança.
Morta a facadas.
Degolada.
Ali, bem na sua frente.
Perdia-se a referência materna.

Após ir morar com a tia e sentir-se um estorvo, Mancha resolveu ganhar as ruas, rompendo qualquer vínculo (se é que um dia existiu) com a sociedade.

Passou a viver de déu em déu, sobrevivendo de esmolas.

Contudo, ganhar algo na cidade grande era deveras complicado.

Inúmeras pessoas passavam por Mancha diariamente, e sequer lhe dirigiam um olhar, ainda que de reprovação!

Mancha era invisível!

Mesmo pedindo esmolas nos sinais, fazendo malabarismos, não era notado!

Até que, num ato desesperado, apossou-se de um caco de vidro e ameaçou uma motorista.

Instantaneamente, o até então “ser invisível”, ganhou corpo e materialidade.

Como se uma assombração se materializasse ali, na frente da madame!

A já conturbada cabeça de Mancha assimilou de imediato a situação: “Ora, então se eu estiver armado, passam a me enxergar?”.

Deu-se assim a sua inserção na modalidade de assalto à mão armada.

Sem arma, era apenas um estorvo para a sociedade, um saco de lixo abandonado numa porta qualquer.

Não merecia sequer o desprezo das pessoas.

Armado, representava o poder absoluto, mediante o pavor das vítimas. Ganhara respeito.
E "tocou o terror"!

Assim como os jovens “Falcões do Tráfico”!
Jovens que entram para o crime com a finalidade de serem enxergados e respeitados por todos!

Embora muitos vejam Mancha como um “psicopata” (tanto é que a população queria o seu linchamento no desfecho do sequestro), cabem aqui algumas informações importantíssimas, omitidas no filme, e deixadas nas entrelinhas do documentário:

- Mancha repetiu, inúmeras vezes, tanto para a mãe adotiva como para a “tia da ONG”, que um dia ficaria famoso e apareceria na televisão;

- Seqüestrou o ônibus com um revólver calibre 38 enferrujado, cinco ou seis balas no tambor, o que nos remete à tese que o crime ocorreu por mero acaso, sem planejamento;

- Se realmente quisesse “matar geral”, teria feito, pois oportunidades não lhe faltaram;

- O documentário de Padilha retrata os momentos em que Mancha conversava com os reféns, contando sua triste história, chegando inclusive a chorar por várias vezes.

Excluindo a sede de sangue da população e o sensacionalismo explorado pela mídia, temos a resposta que levou o sequestro ao final trágico: Tudo o que Mancha desejava era “ficar famoso e aparecer na televisão”.

Não pelo crime em si.

Mas para deixar de ser invisível!

Para que as pessoas que cruzassem o seu caminho, o olhasse nos olhos, com dignidade.

Decerto, se Mancha tivesse a oportunidade de materializar-se para a sociedade, não como um marginal, talvez como um ser humano miserável e esquecido, não ficaria tão famoso, tampouco apareceria na TV, mas exibiria um belo sorriso.
Ted Willians, o "mendigo-locutor", é a prova viva mais recente da transformação do invisível em materialização.
Quantas centenas de milhares de pessoas passaram por aquele trecho, sem enxergar o pobre moribundo, sequer percebendo que naquele trecho havia um homem segurando uma placa improvisada de papelão?
Na certa, não enxergavam porque Ted já fazia parte da paisagem.
Contudo, bastou que um jornalista, olhos treinados (ou quem sabe, com
visão de raio-x), enxergou Ted Willians.
Tirou o mendigo da invisibilidade, mostrando-o a milhares de pessoas.
Hoje, o até então "invisível para a sociedade, transformou-se em celebridade, com direito a inúmeras propostas de emprego, aparições na televisão, convites para talk-shows.

As histórias de Duca e Mancha se cruzam exatamente no instante em que se tornaram invisíveis para a sociedade.

Decidiram, cada qual ao seu modo, sair da invisibilidade.

Recentemente, Duca incorporou-se a uma ONG, cuja atividade é distribuir lanches para os moradores de rua, nas noites de Belo Horizonte.

A primeira experiência foi impactante: a coordenadora do grupo, à medida que iam caminhando pelas ruas, explicando as dificuldades que encontravam no trabalho voluntário, apontava aqui e acolá. “Ali tem um!”, dizia apontando para um canto qualquer.

Duca não conseguia enxergar. “Ali onde?”, perguntava.

Somente quando chegavam perto é que ele conseguia enxergar o “invisível”.

Moradores de rua, mendigos, lixeiros, catadores de papel, viciados, toda a sorte de pessoas “esquecidas” pela sociedade.

Gente que faz parte da paisagem de qualquer cidade, mas que a maioria das pessoas nem nota!

Em cada lanche entregue, um olhar de gratidão!

Muitos nem queriam o lanche, mas apenas bater um bom papo!

Faziam questão de dizer o nome completo, apertar a mão dos seus benfeitores e agradecer, visivelmente emocionados.

Quando disse que Duca passou a cumprimentar as “pessoas invisíveis” que encontrava pelo caminho, não me referi apenas aos moradores de rua, mendigos ou viciados.

Motoristas de ônibus, trocadores, porteiros, faxineiras, a “tia do café”, o caixa do supermercado e toda a sorte de pessoas que fazem trabalhos humildes, porém importantes.

Curioso ver como uma faxineira reage, ao ser tocada no ombro e ouvir um “Bom Dia”, dito de coração.
O susto é enorme!
Infelizmente, há uma parcela considerável da população que só se materializa em períodos elitorais, ou ainda, em grandes tragédias.
Por acaso você já conhecia a Vila Cruzeiro, ou o Complexo do Alemão?
Já havia percebido quantas centenas de famílias moram em encostas, nas chamadas áreas de risco?
Pessoas invisíveis, que são mostradas ao mundo somente para sensibilizar os eleitores deste ou daquele político, mas que desaparecem tão logo o candidato se elege!

Troque o filtro do seu olhar e comece a procurar por aí as pessoas invisíveis!

Não precisa ir longe!

Vai ver, dentro da sua própria casa tem alguém que você não enxerga: seus filhos, a esposa, seus pais.
Vai ver, nem você mesmo se enxerga!

E da próxima vez que cruzar com Mancha ou Duca em um sinal de trânsito, olhe em sua direção.

Diga um “olá”, acene com a cabeça!

Não precisa abaixar o vidro!

Basta apenas enxergá-los!
Antes que, tal qual uma bomba-relógio, explodam e atinjam os seus olhos!
"A miséria e a dor do outro passaram a fazer parte da paisagem natural: todos somos capazes de vê-las, mas prefere-se não enxegá-las".
"Assim, o miserável e o seu sofrimento tornam-se invisíveis e, uma vez invisível, o problema torna-se inexistente".
"Provocar o medo é uma maneira de recuperar sua visibilidade, sua autoestima, sua existência".
(As três últimas frases são de autoria do Professor Hélcio Melo, retiradas do vídeo "Invisibilidade Social - http://www.youtube.com/)
Referências:
"Última Parada 174" - Bruno Barreto.
"Ônibus 174" - José Padilha