quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

RÉVEILLON DA SEGREGAÇÃO


RÉVEILLON: DESPERTAR OU SEGREGAR?

(por Luiz Henrique Prieto)

Segregar v. tr.
1. Separar de um todo.
2. Pôr de parte; expelir, deitar.
3. Fig. Apartar; separar. v. pron.
4. Sair; desmembrar-se.

Réveillon
Termo oriundo do verbo francês réveiller, que em português significa "despertar".

Antes de começar o artigo, deixo claro que não tenho a intenção de atrapalhar a festa de ninguém.

Não sou nenhum desmancha-prazeres, tampouco um rebelde sem causa.

O que pretendo é despertar a atenção de quem se interessar pelo artigo, convidando-o a uma reflexão.

Desde a antigüidade, salvo engano, em Roma, alguém declarou que o povo quer pão e circo.

Como no Brasil o pão anda meio sumido da mesa dos verdadeiramente pobres, nos resta falar sobre o circo!

Mas, afinal, o que me levou a escrever sobre segregação social, justamente num período em que todos estão mais leves pelo espírito natalino e felizes da vida com a expectativa da chegada de um novo ano?

Exatamente o questionamento do Eduardo Costa, apresentador do programa "Chamada Geral", da Rádio Itatiaia.

Há 20 anos, a TV Alterosa, afiliada do SBT, promove o "Festival Alterosa de Fogos", com a tradicional queima de fogos e apresentação de vários artistas na orla da Lagoa da Pampulha, cartão postal de Belo Horizonte.

Há 13 anos, é realizado o "Réveillon da Barragem Santa Lúcia", também com queima de fogos e apresentação de artistas.

Esse ano, me chamou a atenção a divulgação do "Réveillon da Praça da Estação", com apresentação de artistas de peso, tais como "César Menotti & Fabiano", "Banda Calypso", "Alexandre Peixe", "Pitty" e "G.R.E.S. Unidos da Tijuca".

Até aqui, tudo lindo e maravilhoso!

Afinal, a capital teria três opções de diversão para a população, desafogando a Região da Pampulha, que recebe um número maior de espectadores.

Contudo, minha gente, fomos pegos de surpresa com a notícia dada, em primeiríssima mão pelo programa "Chamada Geral", apresentado pelo competentíssimo Eduardo Costa, de que o "Réveillon da Barragem Santa Lúcia" não vai acontecer!

Buscando os reais motivos que levaram ao cancelamento do evento, a imprensa noticiou que a PM emitira um relatório no qual figuram como principais empecilhos "insegurança e aumento nos índices de criminalidade na região".

Eduardo Costa ficou estupefato! Eu também!

Só que ele tem o microfone em mãos. Eu? Apenas o lápis.

E Eduardo fez questão de dizer que as autoridades são incompetentes, por não terem efetivo suficiente para a realização de três eventos na Capital!

É aqui que eu entro, de sola, sem dó nem piedade!

O Réveillon da Barragem, realizado durante 13 anos, permitia que ricos e pobres convivessem, pacificamente, no mesmo espaço.

Geograficamente falando, a Barragem está situada entre o Morro do Papagaio (conjunto de favelas formado por quatro vilas) e os bairros Luxemburgo e São Bento. Tomando como base o mapa do Brasil, a localização equivale ao Estado do Rio de Janeiro.

Ou seja: a Barragem divide ricos e pobres!

E a festa de Réveillon justamente apagava, nem que fosse por poucas horas, a linha imaginária que separava a riqueza da pobreza.

Ricos e pobres, compartilhando juntos, desejando juntos, um novo despertar que se anuncia, às 00:00 h do dia 01 de janeiro.

20 mil pessoas convivendo em harmonia.
Nem ricos, nem pobres. Apenas espectadores, comemorando a chegada de um novo ano.

Dê-se a isso o nome de INCLUSÃO SOCIAL!

Luxemburgo, São Bento, Cidade Jardim...bairros tradicionalmente habitados pela Classe "A" de Belo Horizonte.

Vila Estrela, Vila Santa Rita de Cássia, Vila São Bento (também conhecida como Vila Carrapato ou Bicão),Vila Barragem Santa Lúcia...tradicionalmente habitadas pelas Classes "C" e "D" da Capital.

A + C + D = INCLUSÃO SOCIAL, a fórmula perfeita e tão sonhada pelos antropólogos, sociólogos e todos que batalham por uma sociedade justa.

Com o fim da festa na Barragem, fica clara a polarização, ou melhor, a SEGREGAÇÃO SOCIAL!

Confuso?

Explico.

A Lagoa da Pampulha fica situada na porção noroeste da Capital.

Tomando novamente como exemplo o mapa do Brasil, fica ali no cantinho inferior direito do Estado do Amazonas.

A orla da Lagoa, além do belíssimo conjunto arquitetônico, apresenta um sem-número de mansões.

Mansão = Gente Rica

Festa de Graça = Gente Pobre

E que rico quer ver o pobre sujando a porta da sua casa?

E que pobre vai querer ir prá Orla da Lagoa, andando de 2 a 3 quilômetros a pé, para chegar ao ponto central do evento, se pode perfeitamente pegar um ônibus e ir para a Praça da Estação, localizada bem no centro da Capital.

E que rico vai se aventurar a ir até o "centrão", ficar "no meio daquele tanto de favelado"?

É assim que as ditas festas populares de BH são vistas: um tanto de favelado reunido!

Não sei qual o real interesse da realização de duas festas tão distintas.

Não me venham com esse blá blá blá de que estou procurando pelo em ovo.

O fato é que, na Festa da Pampulha, haverá a tradicional queima de fogos, com a apresentação de artistas pouco ou quase nada conhecidos.

Na festa da Praça da Estação, as seguintes atrações: "César Menotti & Fabiano", "Banda Calypso", "Alexandre Peixe", "Pitty" e "G.R.E.S. Unidos da Tijuca".

De graça!

Adivinha para onde o pobre vai?

Veladamente, ocorre a SEGREGAÇÃO SOCIAL!

Pobres ficam no centrão. Ricos, no bem bom!

Nada contra a guerra das emissoras envolvidas nos eventos, mas é óbvio que também pagamos pelas festas!

Duvido muito que não haverá nem um custo sequer para a Prefeitura de Belo Horizonte ou para o Estado.

Policiamento e Limpeza Urbana não saem de graça!

E, se pagamos pela festa, que seja para TODOS, sem separação, sem discriminação, sem SEGREGAÇÃO!

A título de curiosidade, aí vão os cachês estimados para a "Festa do Povão":

- Banda Calypso: R$ 70 mil
- César Menotti & Fabiano: R$ 200 mil
- Pitty: R$ 60 mil
- Alexandre Peixe: R$ 50 mil
- G.R.E.S. Unidos da Tijuca: R$ 30 mil

Somente no quesito "cachês", temos algo em torno de R$ 410 mil !

Suponho que o custo estimado dos dois eventos gire em torno de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões.

R$ 2 milhões...cerca de 170 moradias construídas...170 famílias levando uma vida mais digna.

Porque, ao invés do embate, as emissoras de TV não se unem para proporcionar um FELIZ ANO NOVO verdadeiramente fraterno?

Réveillon....Réveiller....Despertar...

O sonho de muitos, que não têm nada!

Tempo de reflexão.

Tempo de passar a limpo.

Réveillon....Réveiller....Despertar...

Tempo de despertar, para dizer NÃO às desigualdades, de unir forças, para a construção de um futuro melhor para TODOS!
Fontes:

BELO HORIZONTE – PAMPULHA > MORRO DO PAPAGAIO

PAMPULHA

PRAÇA DA ESTAÇÃO

Um comentário:

  1. muito fácil,ajuntaram-se prefeitura e polícia militar e acionaram o M.P. para em nome da decadente rede globo,que já não vale 1/10 do que tentou ser, desmoronaram os sonhos de aproximadamente 15.000 pessoas,um absurdo.Só mesmo Belo Horizonte pra deixar a rede de televisão mais demodê,baranga mesmo,destruir um evento que há doze anos abrilhanta a passagem de ano do alto da Prudente de Morais.E agora? Quem poderá nos defender.Cadê o POPULISTA PT<que se intitula partidos dos pobres?

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