terça-feira, 29 de junho de 2010

Pedro Bó, UPA's, Dunga e Patrus

Desventuras de Pedro Bó
A saúde vai bem, obrigado!


Prezado Acílio,

Tomo emprestada a síntese do seu texto: “Sobre Dunga, Patrus e os Planos de Saúde e seus beneficiários”, para comparar os Planos de Saúde àquelas casinhas bonitinhas que a gente aluga, através de fotos, para passar a temporada de férias com a família.

Na hora do contrato (e a similaridade começa aí), tudo corre às mil maravilhas: belas imagens, inúmeras promessas: suíte super hiper ultra mega master blaster plus advanced, ambulância com TV de Plasma, frigobar e área vip para os acompanhantes. E, no “TOP TOP” dos planos de saúde, aerotransporte!

Pedro Bó, embevecido pelo caô típico dos vendedores, olhinhos brilhando com o holograma do cartão do Plano de Saúde, nem se ocupa em ler a parte negra do “contrato com o diabo”, que está prestes a assinar.

Mete o chamegão e desfila pela rua, peito de pombo, trupica no orgulho e...plaft!

Cai de cara no chão, esborrachando o nariz e perdendo um dos centro-avantes.

Camisa rubro-sangue, dá um sorriso banguela para os vizinhos e murmura:

Eu tenho prano!

Apalpa o bolso empapado, procurando o cartão provisório do tal plano (“pena que é de papér. Quiria vê o sór alumiano o tár de lograma”!).

Tenta encontrar um “0800”, mas só acha um tal de “4004-sei-lá-o-quê”.

Saca o humilde celular, adquirido em 18 suaves prestações, digita o número do “prano” e ouve a voz metálica dizer: “Saldo insuficiente para completar a ligação”.

A nareba já inchada, mais parecendo ter sofrido um ataque de marimbondos, não impede Pedro Bó de escancarar um sorriso de quem acabou de comer amoras.

Cambaleando, vai até o orelhão (sim, Pedro Bó consegue encontrar um orelhão que ainda não foi vilipendiado).

Plano Five Star, boa tarde”.

’tarde! Ô Dona, sofri um cidente e quero u’a bulança”.

Pois não. Qual o número do seu CPF, senhor”?

Pedro Bó dita número por número (o visor do orelhão mais parece o display de um microondas: os créditos vão caindo rapidamente).

Hum...Senhor Pedro, temos horário dia 23, às 6:00 h da manhã”.

Trem bão, uai! Intaum, tô ino já"! (Olha o relógio, 17:00 h, dia 22.)

Senhor Pedro, é 23 de setembro” (Pequeno detalhe: estamos em junho, o sangue no nariz de Pedro Bó já virou casquinha, as drosófilas, aqueles mosquitinhos de banana, rodeando).

Maisi, dona. Ú môçu disse quiô pudia usa o prano”.

Senhor Pedro, o plano tem carência de 2 meses”.

Ô sei qui o prano é cáru. Ú môçu dissi pá ieu ansim qui tinha inté licópitru e bulança”.

Senhor Pedro, ambulância e helicóptero, só depois de 60 meses (estava tudo lá, nas letras que Pedro Bó, olhos embevecidos, não quis ler). E, para começar a utilizar as vantagens do nosso plano Five Star, o senhor tem que aguardar o cartão chegar e...

Fim dos créditos.

Pedro Bó não desanima.

Lembra de ter visto alguém dizer na TV que, se as UPA’s não tivessem condições de atender o paciente, este seria removido, de ambulância, para um hospital.

Caminha, andar trôpego, até a UPA mais próxima.

Prédio bonito, todo iluminado (“Qui luxo”, pensa Pedro Bó).

Chega à entrada principal.

Por problemas técnicos, a inauguração da UPA foi adiada para agosto”, diz a placa recém-pintada.

Téquino, humpf! Tâmem, tá tudo na Copa”!

Mal sabe o nosso pobre Pedro Bó que a questão é apenas de encaixar um horário na agenda de um político qualquer, que iria à Unidade de Pronto Atendimento só prá cortar uma fitinha colorida, sorrir para as câmaras, tchau e bença!

Desolado, Pedro Bó “Banguela” ouve o conselho do porteiro:

Amigo, pegue um ônibus e vá para o Pronto Socorro”.

Pedro Bó apalpa os bolsos em busca de dinheiro.

Só aí é que se dá conta: investiu cada centavo do seu minguado salário no tal Plano Top de Linha.
Caminha, cabisbaixo, rumo ao lar.

Não sem antes ouvir, através do radinho de pilha do porteiro, o resumo do noticiário:

Patrus vai a Bocaiúva pedir bênção à mãe para ser vice na chapa de Hélio. Dunga xinga repórter em coletiva na África do Sul”.

Êssis téquino! Um pede bença pá sê vice nu grupo num sei de quem. Ú ôtru, dá coice em repórti”.

E o diabo sai da mala, sorrindo...

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