quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A BUSCA PELA FELICIDADE

(por Luiz Henrique Prieto)

Soll man keine rose pflücken, Weil der dorn uns stechen kann ?
(Devemos renunciar a colher uma rosa, por temor que seus espinhos possa nos ferir ?)

O meio mais seguro de não se tornar muito infeliz consiste em não desejar ser muito feliz. [...] pois a aspiração à felicidade e a luta para conquistá-la por si só atraem grande desventura.
SCHOPENHAUER, A. A arte de ser feliz. São Paulo: Martins fontes, 2003, p. 50

É preciso esquecer da felicidade, já que ela é apenas uma quimera, uma coisa passageira ?

É preciso renunciar aos prazeres, já que estes são armadilhas momentâneas ?

A busca pela felicidade não deve ser o norte do ser humano, uma vez que, agindo dessa forma, corre-se o risco de não enxergar mais nada à sua volta, tornando-se uma obsessão.
E como toda obsessão, torna-se doentia e prejudicial.

O homem que tem a felicidade como norma, submeter-se-á a diversas agruras e contratempos durante a sua busca. ("A felicidade é uma quimera".)

Na ânsia de tornar-se feliz, o homem corre o risco de "vender sua alma", passar por cima de tudo e de todos, abrindo mão de seus princípios e de suas virtudes.

Isso porque, há tempos tem-se vinculado a idéia de felicidade à aquisição de bens materiais ou à ascensão social.

Ora, seria tolice adotar tal critério.

Então uma criança nascida em berço esplêndido é mais feliz que aquela nascida em condições precárias ? Um operário é mais infeliz que um magnata ?

Parafraseando Hipodamus, o homem bom que busca coisas de natureza mortal é infeliz.
A felicidade vinculada às coisas materiais é efêmera.
Apegar-se aos bens e riquezas causa sofrimento e dor.
Senão, como explicar o comportamento de um homem que perdeu o emprego, a casa, o carro ou os bens ? Quanto sofrimento, quanta luta, quantas decepções esse Ser não sofreu para adquirir posses e para depois perdê-las.

Não se encontra felicidade em prateleiras de supermercados ou em milagrosas pílulas coloridas.

Adotando-se a felicidade como meta, a busca torna-se tendenciosa.

O homem que vive moderadamente, desapegado das coisas de natureza mortal e equilibrando os sentimentos da alma, tende a encontrar a felicidade, pois ela está associada às virtudes, e exercitando suas virtudes, o homem estará semeando o campo para que a semente seja plantada.

Não se trata de excluir da alma os sentimentos, mas em harmonizá-los.
Do mesmo modo que o calor e o frio são necessários ao equilíbrio do corpo, não sendo possível eliminá-los de todo, mas havendo justa medida entre os mesmos, o homem deve buscar harmonizar sentimentos como a raiva e o desejo, eliminando de sua vivência as verdadeiras causas do conflito e da ansiedade.

Não queremos produzir homens santos, tampouco privá-los dos prazeres mundanos e carnais, tão "indispensáveis" à vida.

Todavia, é necessário que haja um equilíbrio interior, que não permita ao homem cometer excessos e nem faltas.
Esse equilíbrio requer tratamento do espírito e da mente, livrando-a das ansiedades e preocupações, tarefa essa, árdua e longa.

O homem sábio vive corretamente, com moderação, sem causar dor a si mesmo ou aos outros.

Assim sendo, torna-se portador de grande virtude, o que tenderá à felicidade duradoura, pois a segunda não pode perdurar sem a primeira.

Logo, o homem sábio é um homem virtuoso, e um homem virtuoso é um homem feliz.

O homem deve optar entre ser feliz ou estar feliz, sem no entanto, fazê-lo obsessivamente..

Estando feliz, fatalmente a sua felicidade ficará atrelada às coisas efêmeras e terá pouca durabilidade.

Decidindo-se por ser feliz, a sua busca terá chegado ao fim, pois perceberá que a felicidade não depende de fatores externos, mas é resultante da perfeita harmonia interior.

A felicidade é própria dos independentes, isto é, dos que dominam a si mesmos, equilibrados e que agem conforme o meio-termo.

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