segunda-feira, 16 de novembro de 2009

FAIXA VIBRATÓRIA

(por Luiz Henrique Prieto)

Curioso, mas não é que funciona mesmo ?

Não caiu a ficha ainda?

Só um segundo que já explico.

Bem, imagine que você está tentando sintonizar uma estação de rádio. Se a freqüência estiver em FM, você jamais captará AM e vice-versa.

Assim é a faixa vibratória: você vai atrair somente aquilo que está na mesma freqüência.

Dia desses, levei um “sacode” na reunião do Tarefa Amor.
Daqueles onde se tem a certeza absoluta de que o tema foi escolhido exclusivamente para você.

E assim foi.

Saí de alma lavada, vontade imensa de realmente promover mudanças.
E sem essa de, ora cair no fogo, ora cair na água.
“Seja quente, seja frio. Não seja morno, que te vomito”.

Logo cedo, quando acordamos, vivemos o PRESENTE.
Desembrulhar um presente e decidir se gostamos ou não, compete exclusivamente a cada um de nós.
Viva o livre arbítrio!

Reli, pela enésima vez, a história da mulher que fazia quimioterapia e, a cada manhã, quando se olhava no espelho e percebia que os cabelos ficavam cada vez mais escassos, decidia, de forma positiva, o que fazer com os poucos fios que lhe restavam.

“(...) olhou no espelho e percebeu que tinha somente três fios de cabelo na cabeça.

- Bom (ela disse), acho que vou trançar meus cabelos hoje.

Assim ela fez e teve um dia maravilhoso.

No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e viu que tinha somente dois fios de cabelo na cabeça.

- Hummm (ela disse), acho que vou repartir meu cabelo no meio hoje.

Assim ela fez e teve um dia magnífico.

No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que tinha apenas um fio de cabelo na cabeça.

- Bem (ela disse), hoje vou amarrar meu cabelo como um rabo de cavalo.

Assim ela fez e teve um dia divertido.

No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que não havia um único fio de cabelo na cabeça.

- Yeeesss... (ela exclamou), hoje não tenho que pentear meu cabelo.”


Assim, peguei o exemplo e comecei um novo dia.

Primeira tentação do dia: correr e não alcançar o ônibus!

Normalmente, eu ficaria “pê” da vida, a pressão arterial iria lá nas alturas e o dia, fatalmente estaria comprometido.
Tudo isso, às 6 da manhã!

No entanto, decidi fazer o que fosse melhor com os “cabelos” que me restavam. E absolutamente nada conseguiu mudar o meu pensamento ao longo do dia.

Afinal, os contratempos não foram culpa minha.
Não poderia modificá-los, tampouco evitar alguns dissabores.

Mas podia sim, optar em me deixar envenenar pela raiva, pela angústia e pela ansiedade, ou simplesmente, sorrir, assobiar e cantarolar “Nada, nem ninguém no mundo vai me fazer desistir...”.

Adivinhem qual foi a escolha?

Largar serviço quase 3 horas mais tarde tem lá suas vantagens: clima ameno, ônibus vazio, trânsito fluindo tranqüilamente (coisa cada vez mais rara em BH).

Viro a esquina e...PUTZ!!!

Dois ônibus, que me serviriam muito bem, acabavam de sair do ponto!

Ensaio uma corridinha, mas a pontada no peito me faz lembrar que “estou” num momento bomba-relógio: “infarto ou AVC”.

Desisto. Sorrio. E caminhando vagarosamente, cantarolo: “...tudo posso naquele que me fortalece”.

Coisas do destino: à toa, no ponto de ônibus quase deserto, distraído pelas novas tecnologias (tuitar pelo celular é o “must”), tenho a atenção chamada por uma moça que desembarca de um carro de luxo.

“Doméstica, humpf!”, penso cá com os meus botões.

Preconceito mais besta esse!

Afinal, minha mãe foi diarista por muitos e muitos anos!

Do nada, a moça pergunta se determinado ônibus já havia passado.
Diante da minha desanimadora afirmativa, solta um suspiro e lamenta.

Tento animá-la e logo engatamos um bom bate-papo.

“Mírian”, moça simpática lá de “Berlândia”.

Sugiro que utilize o metrô, por ser bem mais rápido.

“Moço, metrô num é prá mim não. Num gosto desse trem”.

Acho graça no modo simples que expõe o seu temor...

Chega o ônibus e prosseguimos proseando.

Num curto trajeto, de pouco mais de 20 minutos, Mirian expõe o seu drama.

Ateou fogo às roupas e quebrou os “brinquedinhos” do “Senhor Meu Marido” (sim, o moço tinha uma coleção de motos, carrinhos e outros bichos mais!).

Pergunto o motivo de tamanha vilania.

“Foi umazinha aí ! Mandou mensagem no meu celular, dizendo que o Senhor Meu Marido gostava mesmo era de vagabundas como eu”.

Surpreso com a espontaneidade da moça, ergo a sobrancelha, num tom inquisidor.

Prosseguindo o relato do seu drama, descreve o estopim da trama.

Deitada no colo do marido, assistindo TV, o celular do moço começa a vibrar no braço do sofá. O gaiato finge que nem é com ele. Diante da cara de boi-sonso do moço, Mírian pergunta se não vai atender.

“Eu ? Ah, deixa prá lá...Não é nada importante”.

“Bom, se não é, deixa que eu mesma atendo”.
E alcança, sem prévio aviso o insistente telefone.

Gildo (acho que o nome do gaiato é esse) fica azul, roxo, bege, rosa, cor-de-burro-quando-foge e quase tem um treco!

“Quem é fulana ?” (Mírian refere-se à Umazinha)

“Ah, uma amiga que não vejo faz tempo. A gente se encontrou, trocou telefone e tal. Mas está casada” (faz questão de frisar, tentando aliviar a barra).

“Ué, e você não disse a ela que também casou ?”

“Acredita que esqueci ?!”

“Então atende e diz, oras !”

“Deixa prá lá. Depois eu falo”.
E desliga o telefone.

Desde então, Gildo passa a levar o telefone prá tudo que é canto: pro banho, prá pelada aos domingos, enfim, não desgruda um segundo sequer do bendito aparelho.
Isso sem falar que até bloquear o teclado com senha ele bloqueou.

E não é que a tal “amiga” passou a mandar mensagens e mais mensagens a qualquer hora do dia e da noite ?
Nem a madrugada escapou ilesa à sanha avassaladora do desejo da “amiga” em reencontrar Gildo.

A gota d’água veio na tal mensagem do telefone de Mírian, enviada por Umazinha: “...gosta mesmo É de vagabundas como você”.

Escolhe as melhores roupas, coloca no tanque, embebeda em álcool e toca fogo.

O resto ? Atira pela janela “como o Abel fez com a Norminha, lembra?”, diz referindo-se ao Corno-Mor da novela “Caminho das Índias”.

“Próximo alvo: as motos e os carrinhos do colecionador”.

“Nossa ! E com ele, fez alguma coisa ?”, pergunto sobressaltado.

“De jeito nenhum ! Mas que tive vontade de voar no gogó dele, ah, isso eu tive sim”.

Teve até polícia no caso.

Curioso é que o próprio policial militar fez o papel de Delegado, Juiz e sabe-se lá o que mais.

Tratou de mandar o Senhor Marido para a casa da mãe (não, não o mandou à PQP), definiu a partilha dos bens e estabeleceu a separação de corpos.

EU, HEIN ?!

Bom, aconselhei a moça a trocar as fechaduras e procurar ajuda.
Por coincidência, trazia no meu bolso um cartão do “Fale Mulher”, uma espécie de força-tarefa que auxilia mulheres vítimas de violência doméstica.

Mírian exibiu um sorriso franco, o rosto iluminou-se.

“Falei com a pessoa certa !”.

Apenas sorrio, acanhado, mas com a sensação de dever cumprido.

Curioso como numa conversa rápida e informal, as pessoas expoem os seus dramas pessoais.

Talvez a intenção seja mesmo a de desabafar.

Talvez seja um grito de socorro.

Antes de me despedir, aconselho Mírian a não tomar nenhuma decisão com a cabeça quente.

Ela acena, obediente, como uma criança que ouve atentamente um sermão.

Eu, até então um desconhecido, me tornei o Conselheiro daquela moça que, estranhamente, cruzara o meu caminho e confiou a mim o seu drama.

Muito provavelmente, jamais nos encontraremos outra vez.

Dizia um sábio: “Pelas ruas da cidade, pessoas andam, num vai e vem...”

Ah ! Mírian estava voltando da casa de um “grande amigo”, onde ficara por 5 dias.

“Meu amigo não é gay, viu ?”, faz questão de destacar .

Gozado como as pessoas se preocupam com o que vamos pensar a respeito de suas atitudes.

Como eu poderia formar opinião sobre o caráter de alguém, baseado num relato muito breve de uma pessoa que jamais havia visto na vida ?

Sem chance !

Aprendi a não construir uma imagem ou formar opinião sobre outrem, sem que tenha convivido (e muito) com essa pessoa.

É mais ou menos como uma folha em branco: não dá para opinar quando não há nada escrito ou desenhado.
É preciso preenchê-la.
E, ainda assim, é possível apagar o conteúdo e reescrevê-lo.

Pessoas são como folhas de caderno, escritas ou desenhadas.

Sem conhecer o seu conteúdo, não posso dizer se é bom ou ruim.

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