quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ALMAS, ESPÍRITOS E GAVETAS

(por Luiz Henrique Prieto)

Nem sempre, é necessário ter um diploma universitário, participar de dezenas de palestras ou ler uma centena de livros de auto-ajuda para aconselhar alguém.

Basta ter sensibilidade, se propor a ser bom ouvinte e, principalmente, encher a boca d’água e bochechar umas duzentas vezes antes de dar o veredicto.

Digo isso porque muita gente por aí gasta tubos de dinheiro em psicanalistas, tratamentos à base de remédios fortíssimos, etc., etc.

Longe de mim desmerecer o trabalho desses profissionais.
Aliás, quem sou eu para contrariar a famosa frase: “Freud explica”.

Como nem todo mundo tem grana, tempo ou coragem de se abrir com um profissional, mesmo porque, soa meio informal, costumo bancar o travesseiro (não de travessuras, mas aquele no qual você coloca a cabeça e desaba prá valer).

E nessas horas, curiosamente surgem alguns conselhos que sei lá de onde tiro a inspiração.

Na verdade, sei sim, mas se disser, a meia dúzia de pessoas que visita o blog vão dar no pé rapidinho.

Depressão. Tristeza. Fundo do Poço. Escuridão total.

Assim se descreveu uma amiga.

Pior ainda: decidiu afastar-se das pessoas, com medo de feri-las com a sua negatividade, temendo encobri-las com a sua nuvenzinha negra.

Na primeira frase que digo, interrompendo o desabafo, ela decide se levantar e ir embora, em prantos.

Penso na besteira que fiz.

Não é nada legal interromper alguém que está falando, principalmente num momento de desabafo.

Reconsidero. Peço desculpas.

E tento deixar minha amiga à vontade, para que prossiga no seu “relato”.
Enquanto ouço, vou tomando vários goles d’água.

Nesse momento, é importantíssimo estar atento a cada palavra, cada soluço, ler as entrelinhas, preencher cada reticência.

E, num passe de mágica, surge o fio do novelo.
Talvez aquele que nos ajudará a desenrolar toda a trama.

Como é complicadíssimo falar em termos religiosos, afinal, cada qual tem a sua e respeito bastante essa individualidade, prefiro usar exemplos práticos, obviamente copiando um carpinteiro famoso, que falava ao seu povo por parábolas.

Nem sempre é aconselhável usar termos técnicos ou demasiadamente complicados.

Se a pessoa já está com a cabeça cheia, dificilmente vai absorver um pingo do que você diz.

Assim tento traduzir toda a confusão que se estabelece no interior daquela mulher, numa comparação simplória: gavetas desarrumadas!

Simples assim.

A nossa alma, ou espírito, assemelha-se a uma gaveta.

Já notou que muitas vezes você consegue perder coisas simples dentro de uma gaveta desorganizada?

Pares de meias se desfazem (e se transformam no “Mistério das Meias Desaparecidas”, tão bem descrito pelo Casseta Beto Silva em seu blog http://tvglobo.casseta.globo.com/beto-silva/), documentos se perdem, roupas sujas misturam-se a roupas limpas, fazendo um irrecusável convite para que traças, baratas e outros tantos insetos infames tornem-se hóspedes permanentes.

Pior ainda quando criamos o péssimo hábito de, toda vez que chegamos da rua, esvaziamos os bolsos na bendita gaveta.

“Ah, um dia eu arrumo.”

Só que, esse dia nunca chega.

A bagunça é tão grande, mas tão grande que, quando você precisa de um determinado documento, não consegue encontrá-lo, por mais que revire roupas e papéis (aumentando ainda mais a bagunça).

Resultado: frustração, mau-humor, decepção, irritabilidade e outros tantos sentimentos negativos.

Mas, não é desse jeitinho que o espírito (ou alma) se comporta?

Quantas e quantas vezes despejamos em nossa “gaveta”, “papéis” colhidos ao longo do dia?

Quantas e quantas vezes permitimos que as “roupas” fiquem desorganizadas dentro da “gaveta” e prometemos um dia arrumar?

Quantas vezes permitimos que estranhos insistam em desarrumar as “roupas” e “documentos” tão cuidadosamente organizados por nós?

Feito os mocinhos de filmes antigos, que viviam se afundando em areias-movediças, caímos na mesma armadilha, surgindo o seguinte dilema: “Se me debater, afundo mais rápido. Se ficar quietinho, demoro a afundar.”

Tão desesperado está você de tentar sair do lamaçal, que esquece o mais simples e óbvio:

Porque não gritar por socorro?

Não seria mais fácil pedir ajuda?

Mas é claro que sim!

Sozinho, você jamais conseguirá safar-se da areia que insiste em sugá-lo para baixo.

Com ajuda, tudo fica mais fácil!

Retornando a almas, espíritos e gavetas.

“Mas eu já tentei organizar a minha gaveta. Não dá!”

Bom, que tal inventar uma nova maneira para organizá-la?

Provavelmente, quando criança, já deve ter brincado de empilhar dominós, colocando uma pecinha atrás da outra, pacientemente, até conseguir formar uma enorme coluna e, finalmente, derrubá-la, dando um peteleco na última peça colocada.

Melhor ainda: já observou pilhas de latas em supermercados?

Desconfio que o repositor deve ter levado horas e horas para deixar tudo bonitinho, estudando a melhor maneira de equilibrar as latas, até formar uma pilha impecável.

Não deu certo de um jeito?

Tente de outro. E de outro. E mais outro.

Pode apostar. Com disposição e boa vontade, você consegue reorganizar a sua gaveta.

Ninguém melhor do que você para saber onde guardar cada coisinha, determinar o que deve ser jogado fora e escolher o que, de fato, entrará na sua gaveta daí por diante.

E não permita jamais que qualquer pessoa que seja, abra a sua gaveta e bagunce-a outra vez.

Afinal, ali estão depositados os seus mais íntimos segredos e sentimentos.

Ah, e se precisar de ajuda na arrumação, basta chamar!

3 comentários:

  1. Adorei o texto.. preciso organizar minhas gavetas..Beijão

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  2. GOSTEI MUITO DO QUE LÍ.
    PARABÉNS MEU FILÓSOFO.

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  3. Há já ia me esquecendo. A! V!

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